O Governo demissionário organizou um congresso este fim de semana. Chamaram ao evento “congresso do PS” uma vez que, alegadamente, tratava-se de entronizar o novo chefe da seita, o sr. Pedro Nuno Santos, a criatura que os militantes elegeram para secretário-geral. Por isso, o primeiro-ministro demissionário, António Costa, apareceu e falou no princípio do espectáculo para, num exercício de miserável autocomplacência, louvar-se, e à sua “obra” destes oito anos. E para renegar por três vezes a vinda do “diabo” graças, precisamente, à sua notável pessoa e aos não menos notáveis três governos do PS. “Não veio, não veio, não veio”, berrou ele aos fiéis. Como é que podia ter vindo se esteve lá sempre, desde que ele negociou a sua subida ao poder, em 2015, com a Esquerda radical que viria estrondosamente a afundar nas eleições subsequentes? Depois, também balbuciou qualquer coisa do género “derrubaram-me, mas não me derrotaram”, quando, sem que ninguém lhe tivesse solicitado o “sacrifício”, foi ele que pediu para sair. O que deu azo a que o referido congresso - e, sobretudo, pessoas sem a menor idoneidade política ou moral para o efeito - exautorasse persistentemente o Ministério Público e a acção penal. Finalmente, compareceu no encerramento como figura de corpo presente. E para que o sr. Santos, com a maior das gentilezas, o declarasse extinto, indo ele, Santos, iniciar o novo “ciclo” sem o magnífico defunto. Santos, aliás, limitou-se a seguir o exemplo do filho de Costa, Pedro, que já tinha anteriormente negado o pai. Enfim, se juntarmos a isto a coveira do SNS - que apareceu no show qual Imaculada Conceição -, a sonsa Temido, muito escutada e aplaudida, tratou-se, sem dúvida, da apoteose da amoralidade política que se apoderou, há muito, do PS. Porquê? Porque, com a cumplicidade de toda (sublinho: toda) a imprensa escrita e audiovisual, o sr. Santos surgiu aos olhos do país como uma vestal impoluta, recém-chegada dos céus para salvar a pátria. Isto quando, consabidamente, o sr. Santos possui, destes anos de executivos socialistas, um dos melhores “cadastros” em incompetência, irrealismo, leviandade e irresponsabilidade do que qualquer outro dos seus antigos camaradas de Governo. Só o estado de anomia, pusilanimidade e subserviência atingido pela Comunicação Social indígena nos gloriosos “anos Costa” pode explicar o enlevo com que esta grandiosa mistificação “passou” para o país. Até comentadores com actividade neuronal caíram nisto como moscas no vinagre. A verdade é que não sei se merecemos melhor.

*O autor escreve segundo a antiga ortografia

QOSHE - O congresso dos demissionários - João Gonçalves
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O congresso dos demissionários

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08.01.2024

O Governo demissionário organizou um congresso este fim de semana. Chamaram ao evento “congresso do PS” uma vez que, alegadamente, tratava-se de entronizar o novo chefe da seita, o sr. Pedro Nuno Santos, a criatura que os militantes elegeram para secretário-geral. Por isso, o primeiro-ministro demissionário, António Costa, apareceu e falou no princípio do espectáculo para, num exercício de miserável autocomplacência, louvar-se, e à sua “obra” destes oito anos. E para renegar por três vezes a vinda do “diabo” graças, precisamente, à sua notável pessoa e aos não menos notáveis três governos do PS. “Não veio, não veio, não veio”,........

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