Costa, que nestes oito anos nunca andou no frenesim “peronista” em que anda agora, demissionário, deixou efectivamente um legado. Inaugurou, dentro do nosso sistema representativo, uma nova maneira de formar Governos. Durante mais de quarenta anos de regime, habituámo-nos a que o partido, ou coligação, vencedor de eleições legislativas formasse Governo. Costa fez outras contas e mudou a natureza “semipresidencial” do regime, “parlamentarizando-o”. Apoia, assim, um Governo o conjunto de deputados politicamente afins que somar 116 em 230, caso o maior desses grupos parlamentares não tenha tido condições, por si só, de o formar, perdendo ou ganhando as eleições. No primeiro caso, tivemos o primeiro Governo Costa. No segundo, o XX Governo, de Passos Coelho, e os outros dois de Costa, o último dos quais sem necessidade das “contas” feitas para os anteriores. O do meio caiu precisamente porque “caíram” os 116 deputados necessários para aprovar, no caso, um Orçamento. Pelo que, a 10 de Março, mais do que escolher um Governo - e, por tabela, recusar o que está e que vai a votos através do sr. Pedro Nuno Santos -, o país terá de optar entre dois conjuntos distintos de deputados e de valores, um bem escasso que esta gente socialista desbaratou por completo. Um, parecido com o que tem o Parlamento dissolvido onde a Esquerda era maioritária. O, espera-se, seguinte, onde essa Esquerda seja claramente minoritária. Só neste quadro é possível, depois, mudar de Governo e, num sentido mais amplo das coisas, dar um sentido cultural de Direita aos destinos do país. Mesmo que os “ciclos”, como agora se diz, se encurtem, ou seja, que haja menos estabilidade governativa (uma enorme falácia) e mais eleições (como deseja o frenético inquilino de Belém). A Aliança Democrática, liderada pelo PSD e por Luís Montenegro, é, aqui, decisiva. Muito provavelmente, os deputados que o partido Chega eleger também. Nenhuma sondagem coloca este partido com menos de dois dígitos. Ou com menos deputados dos que os que detém. Dificilmente deixará de ser o terceiro partido parlamentar, fiquem AD ou PS em primeiro lugar em Março. Se o eleitorado lhe der votos para condicionar a formação de um Governo, é evidente que esse eleitorado tem de ser respeitado, tal como nos ensinou António Costa em relação ao eleitorado do PC, do Bloco, do PAN e até dos defuntos Verdes. Quanto à AD, eu, que estive na de 1979 com os “Reformadores”, tenho algumas palavras para ela. Ficam guardadas para a semana.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

QOSHE - Primeiras palavras sobre a Direita - João Gonçalves
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Primeiras palavras sobre a Direita

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15.01.2024

Costa, que nestes oito anos nunca andou no frenesim “peronista” em que anda agora, demissionário, deixou efectivamente um legado. Inaugurou, dentro do nosso sistema representativo, uma nova maneira de formar Governos. Durante mais de quarenta anos de regime, habituámo-nos a que o partido, ou coligação, vencedor de eleições legislativas formasse Governo. Costa fez outras contas e mudou a natureza “semipresidencial” do regime, “parlamentarizando-o”. Apoia, assim, um Governo o conjunto de deputados politicamente afins que somar 116 em 230, caso o maior desses grupos parlamentares não tenha tido condições, por si só, de o........

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