Um país sem oposição não pode ser visto como um país livre.

Esta semana, a organização Human Rights Watch condenou a detenção no Vietname de três ativistas e jornalistas que utilizavam as redes sociais, onde eram seguidos por milhares de pessoas, para se oporem ao Governo, num país de partido único, onde não pode haver contestação.

O crime indicado terá sido propaganda contra a nação, ou melhor, ousar criticar o poder.

A Ásia e a África são dois continentes manchados a vermelho quando se fala no silenciamento das vozes críticas, o que significa que uma grande parte da população mundial vive, literalmente, a comer e a calar, com mordaças. Discutir o regime pode ser só por si considerado terrorismo. Discutir, já nem falo de criticar.

Chamar “palhaço” a um político, ainda que ele seja líder de uma das maiores potências do Mundo, valeu 18 anos de prisão a Ren Zhiqiang. Uma sentença dada em Portugal em vários casos de homicídio qualificado. Nessa China de mais de mil milhões de habitantes, o controlo é total e os que se atrevem, por convicção e com coragem infinita, a levantar o pó, desaparecem, apagados como se nunca tivessem existido, cancelados definitivamente.

Este pedaço de papel que tem na mão é uma das maiores provas de liberdade de que gozamos todos diariamente sem que façamos disso júbilo. Há 50 anos que as palavras vivem livres em Portugal, apontado pela organização Freedom House como um dos países com maior liberdade de expressão. A mesma associação que regista um declínio da liberdade global nos últimos 18 anos e que refere a importância de garantir liberdade de voto a todos.

Cerca de metade da população mundial vai ser chamada às urnas este ano para decidir o futuro político do seu país. Sabe-se que a liberdade de votar condiciona tudo o resto, porque quanto mais restritivo é esse processo, mais persecutórios serão os dias e os anos seguintes.

Longe desta Europa verde de liberdade de pensamento, de debate, no frio da Sibéria, a morte de Navalny foi mais que a morte de si próprio. O mais mediático opositor, que morreu na cadeia por “causas naturais”, alegam os russos, “um homicídio”, contestam os que lhe eram próximos, representa todas e todos aqueles que lutam para tirar as mordaças, para acabar com territórios do comer e calar, de intimidação, de violência psicológica e física, de detenções arbitrárias de dissidentes.

À chuva, numa manifestação contra o “genocídio de palestinianos” a atriz Susan Sarandon falou livremente e resumiu: “ O nosso inimigo é o ódio, o nosso inimigo é o silêncio”.

QOSHE - Um regime com mordaças é uma prisão - Joana Almeida Silva
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Um regime com mordaças é uma prisão

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09.03.2024

Um país sem oposição não pode ser visto como um país livre.

Esta semana, a organização Human Rights Watch condenou a detenção no Vietname de três ativistas e jornalistas que utilizavam as redes sociais, onde eram seguidos por milhares de pessoas, para se oporem ao Governo, num país de partido único, onde não pode haver contestação.

O crime indicado terá sido propaganda contra a nação, ou melhor, ousar criticar o poder.

A Ásia e a África são dois continentes manchados a vermelho quando se fala no silenciamento das vozes críticas, o que significa que uma grande parte da população mundial vive, literalmente, a comer e a calar,........

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