“O silêncio é de ouro e o ruído mata-nos”, assim reza o adágio popular, cuja imensa sabedoria parece escapar às intrincadas teias do nosso sistema político e judicial.

No recente episódio da demissão do primeiro-ministro António Costa, assistimos a um triste espetáculo de equívocos e enganos onde o Ministério Público, guardião da legalidade democrática, como tão solenemente nos lembra a Constituição da República Portuguesa, pareceu esquecer-se do seu papel de orquestrador silencioso da justiça, preferindo, talvez, uma cadeira na primeira fila no teatro político.

E que peça é esta, em que os atores principais, membros dos poderes executivo e legislativo, encenam uma trama de suspense e surpresa, enquanto o Ministério Público, num ato de ousadia, parece querer dirigir a peça?

Não se pode esquecer que, segundo a nossa Constituição, este poder deveria mais parecer-se com aquele tio discreto que em reuniões familiares observa e intervém apenas quando a lei da boa convivência é quebrada.

Ironias à parte, esta situação sublinha a importância de cada poder do Estado se manter dentro dos limites das suas atribuições constitucionais. A interferência do Ministério Público em assuntos políticos não só ameaça o equilíbrio delicado entre os poderes, como também coloca em risco a sua própria credibilidade e independência.

Voltemos ao nosso adágio. O silêncio, nesse contexto, não é apenas ouro; é um lembrete da importância de manter as fronteiras que separam os poderes do Estado, garantindo uma democracia saudável, onde cada órgão respeita o papel do outro. E o ruído? Bem, esse pode ser o som do risco de comprometermos a integridade do nosso sistema político e jurídico.

QOSHE - Por favor, silêncio - José Manuel Diogo
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Por favor, silêncio

6 0
16.11.2023

“O silêncio é de ouro e o ruído mata-nos”, assim reza o adágio popular, cuja imensa sabedoria parece escapar às intrincadas teias do nosso sistema político e judicial.

No recente episódio da demissão do primeiro-ministro António Costa, assistimos a um triste espetáculo de equívocos e enganos onde o Ministério Público, guardião da legalidade democrática, como tão solenemente nos lembra a Constituição da........

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