Nos últimos anos, a questão do novo aeroporto de Lisboa e a da introdução no país da linha férrea de alta velocidade, a par dos investimentos necessários para a modernização desta última, têm estado em permanência na agenda mediática nacional e fazem parte há muitos anos da lista de prioridades do Governo. Agora que estamos perante uma nova oportunidade, possibilitada pela entrada em exercício de um novo Governo, atrevo-me a sugerir a introdução de um novo tema para cima da mesa: o transporte público rodoviário. Isto porque, excluindo as grandes áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, o resto do país regista graves lacunas a este nível. A verdade é que este verdadeiro serviço público deixou de ser um negócio atrativo para os privados, como foi em tempos, existindo a custo graças ao apoio das autarquias.

A situação é particularmente grave pelos custos sociais, ambientais e económicos que acarreta. De pouco adianta investir em campanhas de sensibilização a favor do transporte público, em detrimento da utilização do automóvel, quando estamos perante um cenário de ausência de uma oferta sólida, eficiente e confortável do primeiro. Sugerir alternativas onde não as há não dá em nada.

As mudanças comportamentais, culturais e sociais desta natureza só são possíveis com opções válidas. Dou o seguinte exemplo: para as pessoas andarem de bicicleta nos centros urbanos, são necessárias vias dedicadas a essa forma de deslocação. A utilização maciça deste modo de transporte até pode demorar tempo, mas se não criarmos as devidas condições para a mudança de paradigma, este não vai acontecer.

Acontece o mesmo em relação aos transportes públicos. Sem as condições substanciais, as pessoas pura e simplesmente não vão abandonar o carro, por mais sensibilizadas que estejam em relação às questões ambientais.

Este é um grande desafio para o novo Governo.

Existe um défice dramático de transportes públicos no país. Uma visita às regiões mais recônditas da Europa desenvolvida deixa-nos envergonhados a este nível e esclarecidos perante o atraso estrutural que temos.

Um país que se quer coeso e forte tem que ter todas as suas regiões como alavanca de desenvolvimento, mas isso só é possível com condições de igualdade, com sentimento de justiça e de apoio nacional.

Veja-se o caso do Quadrilátero Urbano, que junta as cidades de Famalicão, Braga, Guimarães e Barcelos. Trata-se de um território que tem um peso decisivo no emprego e na atividade económica do país. Estamos perante o núcleo de concelhos com melhor performance em todo o país no que se refere ao comércio externo, onde cerca de 600 mil pessoas vivem e trabalham e com uma área de influência de um milhão.

Como é possível que este território não tenha ainda um sistema de transportes públicos integrado, vivendo à custa dos esforços individuais das suas autarquias? Como se compreende que um cidadão da vizinha área metropolitana do Porto tenho soluções intermodais para se deslocar entre os vários municípios, enquanto um cidadão do Quadrilátero se desloca necessariamente através de transporte próprio, dada a inexistência de um sistema integrado de transporte público.

E quanto mais para o interior olharmos, pior será o cenário. Sim, a questão do transporte público rodoviário tem que merecer a mesma preocupação e atenção que o aeroporto de Lisboa ou que o comboio de alta velocidade.

QOSHE - Prioridade ao transporte público - Mário Passos
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Prioridade ao transporte público

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08.04.2024

Nos últimos anos, a questão do novo aeroporto de Lisboa e a da introdução no país da linha férrea de alta velocidade, a par dos investimentos necessários para a modernização desta última, têm estado em permanência na agenda mediática nacional e fazem parte há muitos anos da lista de prioridades do Governo. Agora que estamos perante uma nova oportunidade, possibilitada pela entrada em exercício de um novo Governo, atrevo-me a sugerir a introdução de um novo tema para cima da mesa: o transporte público rodoviário. Isto porque, excluindo as grandes áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, o resto do país regista graves lacunas a este nível. A verdade é que este verdadeiro serviço público deixou de ser um negócio atrativo para os privados, como foi em tempos, existindo a custo graças ao apoio das autarquias.

A situação é particularmente........

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