“Boa para guardar livros ou 75 800 euros”. A recente campanha publicitária da conhecida marca sueca de mobiliário para promover uma estante tornou-se viral e, como sempre acontece com ideias mais disruptivas, provocou ódios e amores.
A propaganda é inspirada na Operação Influencer, que ditou a queda do Governo de António Costa, e faz referência direta ao montante que o então chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária, escondeu nas prateleiras. Não é a primeira vez que o marketing da multinacional recorre a anúncios que refletem a vida real dos consumidores. E, diga-se, fá-lo com sucesso. “A nossa geringonça contra o frio”, “Puxamos o tapete à inflação” foram frases que puderam ser lidas nos últimos anos em vários múpis espalhados pelo país. As campanhas mais inusitadas também se estendem a outros países. Na Suécia, a companhia chegou a pedir às clientes que urinassem num cartaz de um berço para usufruírem de um desconto caso estivessem grávidas (“Urinar nesta publicidade pode mudar a sua vida”).
A diferença, desta vez, prende-se apenas com o “timing”, uma vez que a promoção da estante da IKEA coincide com a pré-campanha eleitoral. A alusão direta às trapalhadas e casos e casinhos do Governo demissionário é evidente.
O sentido de oportunidade foi aplaudido nas redes, mas também não agradou a quem encontrou nesta criatividade uma posição política de uma empresa multinacional, mesmo que a retalhista explique que “olha para as campanhas com sentido de humor e muitas vezes como forma de aliviar a tensão de um Mundo com os nervos cada vez mais à flor da pele”.
O verdadeiro problema é que a estante da IKEA é pequena. O espaço é insuficiente para guardar 75 mil euros e um sem-fim de capas de argolas e caixas de arquivos de processos judiciais em curso, já para não falar de outros que se arrastam no tempo, o que obrigaria a um tratamento cuidado ao mofo e à poeira. Para já, é preciso enviar uma para a Madeira.