Os invernos estão mais furiosos, os verões mais sufocantes, o outono e a primavera misturam-se com as outras estações do ano. As temperaturas da superfície do mar baralham os ecossistemas aquáticos e há blocos de gelo a derreter nos oceanos como se fossem colocados dentro de um micro-ondas.
Nesta autoestrada para o inferno (a expressão é de António Guterres e foi usada o ano passado, no discurso inaugural da cimeira do clima no Egito), passamos por incêndios devastadores, inundações trágicas, secas prolongadas.
E, sim, o Mundo continua com o pé no acelerador rumo ao ponto de não retorno, sem planos B, C ou D.
Vamos na 28.ª cimeira contra as alterações climáticas e deveríamos encarar o encontro que começou ontem no Dubai com esperança. Podemos? Não. Os líderes dos dois países responsáveis por mais de 40% das emissões de carbono não marcam presença. O presidente norte-americano não explicou as razões para a ausência. O Médio Oriente, a Ucrânia e a eleições norte-americanas podem estar entre as justificações. Ontem, a agenda oficial de Joe Biden era mais importante. Tinha de marcar presença na cerimónia de iluminação da árvore de Natal. Xi Jinping também confirmou a ausência.
Não deixa ainda de ser irónico que o homem-forte do petróleo nos Emirados Árabes Unidos, o sultão Al Jaber, seja o presidente da conferência anual das Nações Unidas sobre o clima. É o mesmo que pedir a um vegetariano que seja presidente de uma confraria gastronómica. Um tiro no pé na credibilidade do evento, porque ninguém acredita que o chefe do petróleo faça lóbi pelas energias renováveis.
Enquanto isso, temos a sorte de ir sobrevivendo. Outros já partiram vítimas desta autoestrada rumo ao inferno. Mais de 16 mil pessoas morreram na sequência das alterações climáticas em 2022. Só na Europa. Diz a ONU. Até 2100, o calor matará 200 mil por ano.
Esta cimeira não é sobre clima. É sobre a vida.