Estávamos no ano de 2015 e eram mais de 4 mil as pessoas em situação de sem-abrigo. Um número preocupante que importava reduzir drasticamente, e se possível, erradicar. Trata-se de uma condição de desumanização que nos deve chocar, quando milhares de pessoas nem teto têm para viver.

Ao longo destes últimos oito anos, estes números não só não diminuíram, como aumentaram exponencialmente. Hoje, de acordo com os dados mais recentes vindos a público, são mais de 10 mil e 700 pessoas a viver na rua em situação de sem-abrigo. Criam-se ou renovam-se estratégias, no caso a Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo, mas os problemas agravam-se a números estratosféricos que envergonham uma sociedade onde tantas pessoas estão condenadas a viver nas ruas. Este é apenas um dos retratos do país dos últimos oito anos.

Um problema transversal a todo o país, mas com maior incidência nas grandes áreas metropolitanas, onde o acesso a habitação é também mais difícil.

Já este ano o o Alto Comissariado para as Migrações tinha denunciado o aumento preocupante, nomeadamente, de cidadãos estrangeiros entre a população sem-abrigo em Lisboa. Terão sido 800 as pessoas atendidas nessa condição em 2022. A que se juntam os casos vindos a público de pessoas a viver em carros, em tendas, em contentores, ou seja, em condições absolutamente desumanas e indignas de que não podemos ser cúmplices.

Tivemos no auge da pandemia o caso de Odemira, mas desde aí tem sido ensurdecedor o silêncio em torno das condições de vida em que se encontram milhares de pessoas que chegam ao nosso país e que têm sido condenadas a (sobre)viver nestas condições.

É fundamental receber, acolher e integrar quem escolhe o nosso país para viver, e importa que existam condições de dignidade para que tal aconteça. Há menos de um ano houve um partido que teve o arrojo e a coragem de apresentar um Programa Nacional de Atração, Acolhimento e Integração de Imigrantes - o PSD. Na altura foi ignorado, bem como rejeitada a discussão séria, moderada e ponderada que se impunha. É bom que na campanha eleitoral e no novo ciclo que se avizinha este tema esteja no topo das prioridades.

Sobretudo porque há um espaço de moderação que rejeita a xenofobia de quem não quer receber imigrantes, em particular algumas nacionalidades, e a irracionalidade e a demagogia de quem se recusa a debater e encontrar solução para estas pessoas e a discutir a política de imigração.

QOSHE - É de dignidade que se trata - Margarida Balseiro Lopes
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É de dignidade que se trata

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23.12.2023

Estávamos no ano de 2015 e eram mais de 4 mil as pessoas em situação de sem-abrigo. Um número preocupante que importava reduzir drasticamente, e se possível, erradicar. Trata-se de uma condição de desumanização que nos deve chocar, quando milhares de pessoas nem teto têm para viver.

Ao longo destes últimos oito anos, estes números não só não diminuíram, como aumentaram exponencialmente. Hoje, de acordo com os dados mais recentes vindos a público, são mais de 10 mil e 700 pessoas a viver na rua em situação de sem-abrigo. Criam-se ou renovam-se estratégias, no caso a Estratégia Nacional para a Integração das........

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