É o PISA da pandemia. Foi esta a reação do ministro da Educação aos resultados do PISA 2022 que evidenciaram um trambolhão monumental dos alunos portugueses neste estudo internacional. O mistério adensa-se se compararmos o desempenho dos alunos portugueses com os dos restantes países da OCDE. Se é verdade que há vários países a registarem quedas, Portugal tem uma descida mais acentuada do que a média desses países, facto que o ministro da Educação não é capaz de explicar.

Estes dados vêm juntar-se aos resultados que Portugal tem vindo a registar noutras avaliações internacionais, como é o caso do TIMSS e do PIRLS. No PISA 2018, Portugal evidenciava já um tropeção, que acabou por se acentuar. Ao fim de oito anos de governação socialista, tornar-se-ia risível que houvesse uma responsabilização do Governo do PSD/CDS-PP que desde 2015 já não está em funções. Um Governo que conseguiu no seu consulado registar a mais impressionante subida neste mesmo PISA, quando em 2015 os alunos portugueses surpreenderam, melhorando os resultados em todas as áreas.

Uma vez que o ministro da Educação não encontra explicação para os alunos portugueses terem piorado tanto no mais recente estudo, talvez possamos ajudá-lo na compreensão deste fenómeno, avançando com perguntas e algumas pistas.

Desde 2016, assistimos ao desmantelamento dos instrumentos de avaliação externa que nos permitiam aferir a forma como o sistema educativo estaria a cumprir o seu papel. A escuridão que essa opção nos deixou dificulta a avaliação que podemos hoje fazer de dados como os revelados esta semana.

Houve, contudo, um evidente prejuízo provocado pela pandemia, agravado pelo poder político. Ao excessivo tempo que as escolas estiveram fechadas, juntou-se a displicência com que se olhou para os danos que a pandemia teria tido na aprendizagem dos alunos. Ainda nos lembramos de um relatório do IAVE que apontava para um impacto positivo da pandemia na aprendizagem dos alunos, o que de tão ridículo soou que rapidamente foi uma narrativa abandonada pela tutela. Concluir que alunos sem aulas, fechados em casa, aprenderiam mais é demasiado insultuoso para a maioria das pessoas.

Houve, entretanto, um plano de recuperação de aprendizagens gizado pelo Ministério, cuja execução foi duramente criticada pelo Tribunal de Contas, pelos professores e diretores de escolas.

A recente prorrogação deste plano deixou cair uma das suas mais benéficas medidas - o reforço do crédito de horas -, uma vez que não havia verbas europeias para a manter. Mas a razão é outra. Não foi uma prioridade. Nem a recuperação da pandemia, nem o qualidade do sistema educativo. E os resultados estão à vista. Os alertas foram vários e os sinais também. Era só uma questão de tempo.

QOSHE - Era só uma questão de tempo - Margarida Balseiro Lopes
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Era só uma questão de tempo

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09.12.2023

É o PISA da pandemia. Foi esta a reação do ministro da Educação aos resultados do PISA 2022 que evidenciaram um trambolhão monumental dos alunos portugueses neste estudo internacional. O mistério adensa-se se compararmos o desempenho dos alunos portugueses com os dos restantes países da OCDE. Se é verdade que há vários países a registarem quedas, Portugal tem uma descida mais acentuada do que a média desses países, facto que o ministro da Educação não é capaz de explicar.

Estes dados vêm juntar-se aos resultados que Portugal tem vindo a registar noutras avaliações internacionais, como é o caso do TIMSS e do PIRLS. No PISA 2018, Portugal evidenciava já um tropeção, que........

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