Os números são impressivos e o silêncio também. Foi tornado público esta semana que cerca de 40 mil alunos terão começado o segundo período sem, pelo menos, um dos professores. Mas a realidade é ainda mais perturbadora quando, destes 40 mil, quase dois mil alunos têm, pelo menos, uma disciplina à qual ainda não tiveram aulas desde setembro. Este é um flagelo que afetará mais de um quinto das escolas.
Tudo isto se passa com relativa impassividade e indiferença por parte do poder político e da sociedade, o que é quase tão perturbador como as consequências que desta realidade resultam para milhares de alunos no curto e no médio/longo prazo.
Aquando da divulgação dos resultados PISA 2022, que mostrou uma queda muito mais acentuada do que a média dos países da OCDE no caso português, assistimos da parte do Governo a uma brincadeira com as palavras, procurando confundir e baralhar os números, justificando que todos tinham caído e que nós até estávamos na média. O que deliberadamente não foi dito é que, estando Portugal acima da média, e caindo mais do que a média, é essa circunstância que torna verdadeira parte do argumento utilizado. E, portanto, piorámos muito mais do que os outros. E qual é a razão para voltar a este tema? É porque tem total pertinência e ligação com a situação das escolas atualmente.
Depois de anos letivos marcados pela pandemia, com o encerramento sine die a que as escolas foram sujeitas, e os confinamentos que se seguiram, entrámos numa outra realidade em que as escolas estão abertas, mas não há aulas porque não há professores. Haverá danos objetivos e passíveis de serem quantificados em resultado desta situação, mas para que tal aconteça importava que: houvesse a assunção de responsabilidades do que se está a passar nas escolas por parte da tutela; que existisse vontade em compreender o que está em causa; que fosse clara a forma como será feita a sua resolução.
Sem estas três condições verificadas, continuaremos a hipotecar uma geração. Sem contar com a maior perversidade que esta situação coloca de agravar as desigualdades sociais. Não haja dúvidas que os agregados familiares com condições financeiras para o fazer procurarão em escolas privadas ou em centros de explicação a resposta que não está a ser dada na escola pública. Ou seja, para trás ficarão mesmo os mais vulneráveis a quem o Estado não tinha o direito de falhar. Mas falha reiteradamente, o que é imperdoável.