Quem diria que no final de 2023 estaríamos em pré-campanha para umas eleições legislativas antecipadas no início de 2024? Menos de dois anos depois de o país ter ido a votos e ter havido um partido a alcançar maioria absoluta? A política muda mesmo muito rapidamente e os últimos meses mostraram que a improbabilidade, por vezes, acaba por derrotar todas as expectativas. A realidade política mudou a uma velocidade estonteante, ao contrário das condições de vida das pessoas que - no que mudou - foi para pior. Da saúde à educação, passando pela habitação, o país está hoje pior do que estava quando o atual Governo entrou em funções.

É verdade que o cenário de eleições se precipitou pela degradação das condições políticas do Governo que vai muito além do fatídico mês de novembro, altura em que o primeiro-ministro se demitiu. O rol de demissões no Governo de maioria absoluta acompanhou todo o seu curto tempo de existência. E entramos em 2024 em clima já de pré-campanha. Por estes dias, e provavelmente até ao final da campanha, será grande a tentação de centrá-la nos cenários de governabilidade e nas políticas de alianças. O PSD já foi, aliás, muito claro em relação a esta matéria. Ganhava a democracia se o PS pudesse ter esse tipo de transparência e dissesse já ao que vai. Talvez assim houvesse tempo no espaço mediático para se discutirem os problemas e se confrontarem as diferentes soluções que os partidos têm para apresentar. Já não há paciência para aquele que parece ser o “trunfo” de campanha do PS. Procurar assustar os eleitores com a possível aliança do PSD com um partido que o PSD já disse e reafirmou que não é uma solução.

Enquanto isso o Serviço Nacional de Saúde continua em colapso, com relatos de tempos de espera nas urgências superiores a 10 horas. Na educação, o país confronta-se com os resultados desastrosos dos alunos portugueses em provas nacionais e internacionais, o que atesta o falhanço das opções do Ministério da Educação nos últimos anos. Ou na habitação, quando os milhares de casas anunciados continuam a existir apenas nos “slides” de powerpoint apresentados pelo Governo. O país tem problemas de sobra e gravidade tal que será útil que a campanha eleitoral sirva para mais do que a promoção do medo em relação a cenários que já foram rejeitados.

O que está em jogo é muito mais do que uma mera mudança de Governo. É mesmo uma necessária e profunda transformação na forma como a política passará, de facto, a ter a capacidade de responder aos problemas - muitos - que as pessoas enfrentam na sua vida.

QOSHE - Quem diria? - Margarida Balseiro Lopes
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Quem diria?

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30.12.2023

Quem diria que no final de 2023 estaríamos em pré-campanha para umas eleições legislativas antecipadas no início de 2024? Menos de dois anos depois de o país ter ido a votos e ter havido um partido a alcançar maioria absoluta? A política muda mesmo muito rapidamente e os últimos meses mostraram que a improbabilidade, por vezes, acaba por derrotar todas as expectativas. A realidade política mudou a uma velocidade estonteante, ao contrário das condições de vida das pessoas que - no que mudou - foi para pior. Da saúde à educação, passando pela habitação, o país está hoje pior do que estava quando o atual Governo entrou em funções.

É........

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