Cerca de 30% dos jovens que nasceram em Portugal, entre os 15 e os 39 anos, tomaram a decisão de emigrar. Estes são números avançados esta semana pelo semanário “Expresso” e que têm tanto de inquietantes, como de reveladores. 70% das pessoas que emigraram têm entre 15 e 39 anos.

Inquietantes porque se trata do êxodo de uma geração altamente qualificada, que tanta falta fazia ao país, e que não tendo oportunidades dignas em Portugal está a empenhar todo o seu esforço e talento em países que tiveram a capacidade de lhes oferecer melhores condições de vida. A viver melhor lá fora, é nessas geografias onde estes jovens iniciam os seus projetos de vida e de família, dificultando a capacidade de o país os recuperar, pelo menos, nos próximos anos.

E reveladores porque demonstram o fracasso absoluto das políticas públicas que nos últimos anos foram desenhadas e que se revelaram incapazes para suster a fuga de cérebros para o estrangeiro. Há vários exemplos da ineficácia das medidas anunciadas com o intuito de reter os jovens em Portugal. Veja-se o caso da habitação, um dos maiores obstáculos à emancipação dos jovens no nosso país. Quase cinco anos depois da entrada em vigor do programa de arrendamento acessível, em que se estimava que chegasse a 20% do mercado, afinal abrange hoje cerca de 0,12% do total de contratos de arrendamento celebrados, ou seja, pouco mais de mil contratos. O mesmo se diga em relação ao incipiente IRS Jovem que atribui uns descontos no IRS nos primeiros cinco anos de atividade profissional, muito aquém das necessidades de quem esperava bem mais do país onde nasceu e onde gostaria de continuar a viver.

O Observatório da Emigração estima que sejam mais de 850 mil pessoas nesta situação, sendo Portugal o país da Europa com a taxa de emigração mais alta e uma das mais elevadas do Mundo. Lamentavelmente, continuamos a destacarmo-nos negativamente apenas nestes domínios: dos que mais emigram, dos mais envelhecidos, onde menos crianças nascem. É um fardo demasiado pesado para o futuro do país.

Um país que precisava do talento, da inovação e da juventude dos seus mais novos não se pode dar ao luxo de continuar a aplicar as mesmas receitas e as mesmas políticas que se revelaram totalmente incapazes de fixar os jovens em Portugal.

QOSHE - Uma hemorragia que não pára - Margarida Balseiro Lopes
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Uma hemorragia que não pára

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13.01.2024

Cerca de 30% dos jovens que nasceram em Portugal, entre os 15 e os 39 anos, tomaram a decisão de emigrar. Estes são números avançados esta semana pelo semanário “Expresso” e que têm tanto de inquietantes, como de reveladores. 70% das pessoas que emigraram têm entre 15 e 39 anos.

Inquietantes porque se trata do êxodo de uma geração altamente qualificada, que tanta falta fazia ao país, e que não tendo oportunidades dignas em Portugal está a empenhar todo o seu esforço e talento em países que tiveram a capacidade de lhes oferecer melhores condições de vida. A........

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