Os resultados da sondagem ICS/Iscte, que repete um inquérito regular feito desde 2004, revela que 65% dos portugueses consideram o 25 de Abril o facto mais importante da história de Portugal. Não deixando alguns de reconhecer que Abril teve também consequências negativas, uma larga maioria, 56%, consideram que, globalmente, se registaram mais consequências positivas do que negativas, contra apenas 10% que consideram ter havido sobretudo consequências negativas. Mais de 80% dos portugueses afirmam ter orgulho na transição para a democracia e 84% reconhecem que o país mudou muito, globalmente para melhor (56%).

Os aspetos da vida que os portugueses consideram estarem melhor do que há 50 anos são a saúde, a educação, a segurança social, a economia e a proteção do ambiente, bem como a convivência social e o civismo. Reconhecem-se limitações na nossa democracia, mas, na comparação internacional, 74% dos portugueses entendem que somos tão ou mais democráticos do que outros países europeus.
Sem grande surpresa, a corrupção, a criminalidade e a segurança, o desemprego, a habitação e a justiça são os aspetos da vida coletiva que a maioria dos portugueses considera estarem pior do que antes do 25 de Abril. Crenças nem sempre comprovadas no plano factual, mas que são coletivamente partilhadas com convicção.

Alguns resultados da sondagem surpreendem, porque contrariam narrativas que dominam o debate público. Em primeiro lugar, as perceções e avaliações positivas sobre o 25 de Abril têm melhorado com o tempo, mesmo entre os mais jovens. Em segundo lugar, 68% dos portugueses consideram que continua a fazer sentido comemorar o 25 de Abril. E, finalmente, não se identificam clivagens significativas em função da simpatia política e partidária ou do estatuto socioeconómico dos inquiridos. Tudo isto significa que o 25 de Abril faz hoje parte da narrativa identitária nacional dos portugueses que, globalmente, valorizam viver num regime democrático, com liberdade e Estado social.

Estou certa de que, para alimentar estas atitudes positivas, contribui o facto de as comemorações do 25 de Abril terem mantido sempre forte componente popular, com o envolvimento de muitas instituições, em todo o país. As câmaras, as universidades, as fundações e associações, mas sobretudo as escolas promovem iniciativas variadas, como debates, conferências, espetáculos, exposições, livros, sempre com foco na celebração da liberdade e da democracia, lembrando o antes e o depois. Como requerem as boas práticas de cuidado da memória.

QOSHE - Os portugueses e o 25 de Abril - Maria De Lurdes Rodrigues
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Os portugueses e o 25 de Abril

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25.04.2024

Os resultados da sondagem ICS/Iscte, que repete um inquérito regular feito desde 2004, revela que 65% dos portugueses consideram o 25 de Abril o facto mais importante da história de Portugal. Não deixando alguns de reconhecer que Abril teve também consequências negativas, uma larga maioria, 56%, consideram que, globalmente, se registaram mais consequências positivas do que negativas, contra apenas 10% que consideram ter havido sobretudo consequências negativas. Mais de 80% dos portugueses afirmam ter orgulho na transição para a democracia e 84% reconhecem que o país mudou muito, globalmente para melhor (56%).

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