Um longo caminho para a liberdade foi como José Maria Neves, presidente de Cabo Verde, resumiu, em 2023, o desenvolvimento no seu país, titulando o trabalho que nele lhe coube como “o ofício do bem comum”.

Construir uma sociedade melhor acabando com o sofrimento inútil foi a justificação do ex-primeiro-ministro espanhol Zapatero quando, em 2005, propôs a alteração do Código Civil removendo os obstáculos ao casamento entre homossexuais. Disse então: “esta lei não produzirá mal algum [...] a sua única consequência será livrar seres humanos de sofrimento inútil. E uma sociedade que livra os seus membros de sofrimento inútil é uma sociedade melhor”.

Melhorar a vida das pessoas, foi também a forma como Fernando Henrique Cardoso, nas “Cartas a um jovem político”, definiu os objetivos de fazer política: “O que posso dizer a um jovem desejoso de ser político, se tivesse de resumir numa única frase o mais elevado propósito da vida pública, seria simplesmente o seguinte: só entre na política para tentar mudar as coisas para melhor. Sonhe que será possível, mas não se perca no sonho: ajude a construir um caminho que permita fazer que a vida das pessoas melhore”.

O ex-presidente da República Mário Soares, em 2009, no livro “O elogio da política”, disse: “a consciencialização da importância da Política (com P grande), defensora dos valores humanistas, das grandes causas, respeitadora das regras éticas, da justiça e ao serviço das pessoas, será a melhor alavanca para conseguir que o século XXI traga, finalmente, uma nova ordem mundial, de paz, de liberdade, da igualdade possível e do bem-estar para todos, no respeito pela natureza e pela dignidade de todos os seres humanos”.

Há muitas formas de conceber o bem comum, há muitas visões do que é ou pode ser a sociedade ideal. Porém, para lá do que possamos fazer na concretização de um ideal baseado nas nossas convicções, é muito importante que a política comece por se preocupar com a melhoria da vida das pessoas, eliminando o sofrimento inútil, proporcionando a todos vidas dignas, afirmando a liberdade de todos e de cada um.

Que um conjunto de pessoas publique um livro em que defende uma visão conservadora da família e da identidade do país faz parte da liberdade de debater todas as ideias, mesmo que eu as considere retrógradas e reacionárias. Mas quando um ex-primeiro ministro propõe que tais ideias se transformem em Programa de Governo do país, isso significa que quer dar passos atrás no longo caminho para a liberdade que percorremos nos últimos 50 anos.

QOSHE - Um longo caminho para a liberdade - Maria De Lurdes Rodrigues
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Um longo caminho para a liberdade

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11.04.2024

Um longo caminho para a liberdade foi como José Maria Neves, presidente de Cabo Verde, resumiu, em 2023, o desenvolvimento no seu país, titulando o trabalho que nele lhe coube como “o ofício do bem comum”.

Construir uma sociedade melhor acabando com o sofrimento inútil foi a justificação do ex-primeiro-ministro espanhol Zapatero quando, em 2005, propôs a alteração do Código Civil removendo os obstáculos ao casamento entre homossexuais. Disse então: “esta lei não produzirá mal algum [...] a sua única consequência será livrar seres humanos de sofrimento inútil. E uma sociedade que livra os seus membros de sofrimento inútil é........

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