Quando as sondagens oscilam entre valores que aproximam PS e AD de um empate técnico, somos forçados a entrar no ritmo diário dos números que abatem todas as expectativas de que as eleições não irão ser decididas por casos menores. Partindo do princípio de que há um tempo para a intervenção do Ministério Público, teremos já assistido a tudo de relevante no que à interrupção de ciclos políticos diz respeito.

Nenhum grande caso, empolado ou não, irá interromper a campanha eleitoral que conduzirá às eleições de 10 de Março, pelo que passámos dos parágrafos às latas de tinta. Lucília Gago, procuradora-geral da República, afirma que o Ministério Público vive uma “presunção de culpa” e é mesmo real esse descrédito, gravíssimo para a democracia, que parece ter invertido o ónus da culpa. Mas só uma perspectiva autocrítica e transparente sobre os poderes dentro do poder pode reatar a confiança que as diárias e permanentes fugas de informação comprometem. Esta tem que ser a fonte de descrédito a acudir, sem hesitações. Enquanto o Ministério Público e o sistema judicial lidarem em surdina e complacência com os seus delatores internos, nenhuma acusação ou decisão poderá ser assumida como certa.

Porque a governabilidade à Direita é um caso sério de impossibilidade face à força do Chega, à falta de estabilidade no sistema judicial juntar-se-á a ausência da mesma no contexto político pós-eleições. Dentro ou fora da solução governativa que uma vitória da AD poderia proporcionar, a extrema-direita será uma parte da equação de governo até ao momento em que, tacticamente, lhe seja vantajoso romper. O único timing que assiste é o da oportunidade ou oportunismo político, como tem sido claro em todo o trajecto partidário e pessoal. A mal ou a bem, o PSD irá compreender, talvez tarde demais, que o discurso que alimenta a semelhança entre o argumentário de Passos Coelho e André Ventura é o mesmo que fará com o que o Diabo acabe mesmo por chegar e se instale comodamente na Direita portuguesa.

António Costa tarda a reaparecer mas será presença obrigatória, nos últimos dias, se o PS quiser mesmo ganhar as eleições. Para o PS de Pedro Nuno Santos, algo indeciso entre ser ou parecer, o melhor que poderia acontecer seria contar com a permanente ajuda de Pedro Passos Coelho, Cavaco Silva ou Durão Barroso na campanha. Com infelicidade para a Esquerda, esses momentos ainda não se vulgarizaram. Os eleitores não esquecem. Aqui, a estabilidade. É que, nestes casos, o que parece, é.

*O autor escreve segundo a antiga ortografia

QOSHE - A falta de estabilidade como garante - Miguel Guedes
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A falta de estabilidade como garante

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01.03.2024

Quando as sondagens oscilam entre valores que aproximam PS e AD de um empate técnico, somos forçados a entrar no ritmo diário dos números que abatem todas as expectativas de que as eleições não irão ser decididas por casos menores. Partindo do princípio de que há um tempo para a intervenção do Ministério Público, teremos já assistido a tudo de relevante no que à interrupção de ciclos políticos diz respeito.

Nenhum grande caso, empolado ou não, irá interromper a campanha eleitoral que conduzirá às eleições de 10 de Março, pelo que passámos dos parágrafos às latas de tinta. Lucília Gago, procuradora-geral da República,........

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