São armas os equívocos e os barões assinalados nas idas e voltas, rocambolescas, de todo o processo que conduziu ao pedido de demissão de António Costa. Armas contra a democracia, o Estado de direito e a separação de poderes. Sobre os poderes que confrontam o poder, escreverá a História. Sobre o que todo este processo ditará no futuro próximo, um conjunto de condicionamentos é inevitável até pela aceleração da política para além do “tempo previsível”. Nenhuma eleição é demasiado tarde, ainda que só a 10 de Março, para todo um espectro político governado para uma maioria que pensava, ensaiava e projectava um calendário de eleições para anos seguintes.

Não deixa de ser singular que o anterior Governo de António Costa caia pela não aprovação do Orçamento do Estado de 22 e antes dele. E que o agora demissionário Governo de maioria absoluta caia apenas e só após a aprovação do Orçamento do Estado para 24. O pé no acelerador da política deixa o mapa da mina do país intacto para que quem vier abra a porta ou faça o reajuste em sede de rectificativo. Um Orçamento com padrasto e o pé no acelerador da política farão dos acordos de regime a grande pedra-de-toque da uma geringonça à Esquerda ou à Direita. Está muito claro para todos que a bipolarização do espectro político português será feita à custa de acordos entre partes que já não estão desavindas pelo perspectiva de tomar em assalto ou de salvar o possível.

Depois de ter introduzido o 25 de Novembro como arma de arremesso no Dia da Implantação da República, Carlos Moedas pede agora que se compreenda o voto de protesto na extrema-direita, sendo que uma declaração destas no actual contexto não tem outra leitura: o volte-face está à mão de semear de uma coligação informal de interesses. Longe vão os tempos em que o presidente da Câmara de Lisboa puxava do seu exemplo de conquista da cidade, procurando provar que é possível ganhar eleições sem a extrema-direita de braço dado. Limpar com transparência não poderá nunca ser compatível com a actividade de reciclagem de lixo. Apesar de todos os desmentidos em forma de pré-aviso à navegação, é elementar que o PSD perceba que terá de crescer definitivamente ao centro-direita, cumprindo - até aos olhos dos eleitores - a hipótese de redenção de um sistema que assegura estar poluído sem culpa própria.

As sondagens, esses entes de aproximação a uma realidade que muda mais rápido do que a própria amostragem, podem mentir. Mas sendo sensíveis ao epicentro do furacão, não retiram ao PS a “pole position” partilhada na grelha de partida para as próximas eleições. A política acelera em forma de tufão que tudo varre mas não parece mudar o sentimento do país sobre quem o pode governar em segurança contra intempéries.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

QOSHE - Bipolarização em grupo - Miguel Guedes
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Bipolarização em grupo

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17.11.2023

São armas os equívocos e os barões assinalados nas idas e voltas, rocambolescas, de todo o processo que conduziu ao pedido de demissão de António Costa. Armas contra a democracia, o Estado de direito e a separação de poderes. Sobre os poderes que confrontam o poder, escreverá a História. Sobre o que todo este processo ditará no futuro próximo, um conjunto de condicionamentos é inevitável até pela aceleração da política para além do “tempo previsível”. Nenhuma eleição é demasiado tarde, ainda que só a 10 de Março, para todo um espectro político governado para uma maioria que pensava, ensaiava e projectava um calendário de eleições para anos seguintes.

Não deixa de ser singular que o........

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