A percepção de que a nova AD não consegue implantar-se no eleitorado começa a formar uma evidência. Não são apenas as sondagens que o indicam, é também o potencial crescimento da extrema-direita a reforçar a ideia de que a nova coligação não conseguiu qualquer sinal de retoma de um eleitorado que lhe foge entre os dedos, após PSD e CDS terem permitido que o fenómeno germinasse dentro de portas. Nenhuma linha laranja foi traçada quando o alerta era mais do que vermelho. Mesmo a contrição é, hoje, controversa. O monstro não habitou, subitamente, o presente. Foi ocupando um lugar dentro dos dois partidos que o deixaram crescer e que, agora, olham para o líder do Chega como um filho bastardo, indesejado, que não querem abraçar mas a quem terão que pedir a mão.

Como se não bastasse o determinismo histórico que vem nos livros, o contexto não é grande ajuda. Apesar de ser um drama que varre todo o bloco central e arco de poder, não deixa de ser enigmático que o caso de Miguel Albuquerque na Madeira apareça no momento em que Montenegro procurava implantar a ideia de uma reforma fiscal sem precedentes, defendendo a descida de impostos como grande bandeira eleitoral. A comparação com o pedido de demissão de António Costa é evidente, assim como o conflito com o código de ética que o centrão tanto procura implantar perante a incapacidade de se autorregular.

A incapacidade de comunicar positivamente pode ser a gota de água que empurre o PSD para o empate técnico com a extrema-direita, como já se augura nas últimas sondagens, se levarmos em linha de conta a distribuição de indecisos. A forma como o PSD procura fazer agora campanha, explorando a demagogia e o espelho com os temas e argumentação bélica do Chega - relativamente à ideia de que “são todos iguais” no que diz respeito à corrupção da classe política -, é o alimento que a extrema-direita precisa para ser a segunda força partidária no país. Quem não perceber isto, quem não arrepiar caminho, é cúmplice e não percebe nada do que está a crescer para ser realidade e que reduzirá a social-democracia a uma vírgula na realidade. Poderá chegar o tempo em que Passos Coelho volte, não para liderar um projecto na Direita, mas para levar o PSD como apêndice.

o autor escreve segundo a antiga ortografia

QOSHE - Força de apêndice - Miguel Guedes
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Força de apêndice

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26.01.2024

A percepção de que a nova AD não consegue implantar-se no eleitorado começa a formar uma evidência. Não são apenas as sondagens que o indicam, é também o potencial crescimento da extrema-direita a reforçar a ideia de que a nova coligação não conseguiu qualquer sinal de retoma de um eleitorado que lhe foge entre os dedos, após PSD e CDS terem permitido que o fenómeno germinasse dentro de portas. Nenhuma linha laranja foi traçada quando o alerta era mais do que vermelho. Mesmo a contrição é, hoje, controversa. O monstro não habitou, subitamente, o presente. Foi........

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