Os debates fulminantes servem a demagogia, as frases-chave e a ausência de ideias, mas não disfarçam a incompetência e a impreparação. No reinado da imaginação, há um debate que fica por ter e que seria revelador, caso as televisões se interessassem em desfazer o maior mito: colocar a Esquerda num só debate e toda a Direita num outro, perguntando a cada um dos blocos que compromisso assumem perante os portugueses em matéria de alianças futuras. Como adultos na mesma sala mas com o tratamento dado às crianças. É imperioso, de uma vez por todas, que respondam, olhos nos olhos, à questão que importa: como formarão, viabilizarão ou rejeitarão o próximo Governo do país? Sobre a composição de uma maioria dentro de cada um dos blocos. Esta é a clarificação decisiva que importa.

Como acreditar que a nova AD não promoverá acordos com a extrema-direita perante os exemplos dados nos Açores, quando tem um PPM em vírgulas de percentagem a apresentar um líder escondido no armário por vergonha alheia, mas capaz, quando o deixam sair, de verbalizar maior reaccionarismo do que o Chega? Se Luís Montenegro é capaz de se aliar ao PPM por um tão pouco simbólico, porque recusará um acordo com o Chega para viabilizar Governo? Importa saber o que fará a IL perante um acordo que envolva a extrema-direita que lhe tolda os costumes. Assim como se o Chega viabiliza ou não um Governo da AD e IL através de um simples apoio parlamentar e até quando.

Perguntas simples.

À Esquerda, importa saber o que fará o PAN na viabilização de um governo de Direita, tendo em conta o que faz na Madeira. É também fundamental saber de Pedro Nuno Santos olha para a CDU como parte final da equação e que condições, escritas ou não, colocam BE e CDU ao PS para aceitar formar Governo. Importa também saber se o Livre viabilizará um Governo de Direita sem Chega. Os acordos são de governo ou de incidência parlamentar? O PS viabiliza um Governo minoritário à Direita? Tudo o que interessa saber importa, mesmo que por interferência relativa. O novo “voto útil” está na divergência entre as partes, na percepção do que fará cada um dos partidos numa política de alianças pós-eleições que assuma a viabilização de um Governo ou a rejeição de um outro.

Menos sondagens e mais factos. Exige-se clarificação e cada um dos blocos só teria a ganhar com ela. Perante a profusão de debates-relâmpago e múltiplos formatos de desinformação, como seria fundamental juntar todos na mesma sala para fazer política adulta. Se a questão é o tempo, desdramatize-se: seria um debate de apenas cinco minutos em cada bloco em nome da governabilidade e do compromisso.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

QOSHE - O novo "voto útil" - Miguel Guedes
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O novo "voto útil"

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09.02.2024

Os debates fulminantes servem a demagogia, as frases-chave e a ausência de ideias, mas não disfarçam a incompetência e a impreparação. No reinado da imaginação, há um debate que fica por ter e que seria revelador, caso as televisões se interessassem em desfazer o maior mito: colocar a Esquerda num só debate e toda a Direita num outro, perguntando a cada um dos blocos que compromisso assumem perante os portugueses em matéria de alianças futuras. Como adultos na mesma sala mas com o tratamento dado às crianças. É imperioso, de uma vez por todas, que respondam, olhos nos olhos, à questão que importa: como formarão, viabilizarão ou rejeitarão o próximo Governo do país?........

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