O tempo político legislativo acelerou e todas as eleições que aí vêm colocaram pé no travão. Sejam europeias, autárquicas ou presidenciais, as próximas chamadas à urna em Portugal estarão sempre contaminadas pelo calendário legislativo e pelo espectro de instabilidade que paira sobre este novo ciclo de governação. O dia 1 em Primavera. Luís Montenegro deu-se ao sacrifício, pedindo a Marcelo Rebelo de Sousa que o indigitasse antes de partir para Bruxelas, imolação que o coloca na Europa com maior pompa e circunstância e com menos horas de sono. Sem muito tempo livre para confirmar os nomes do novo elenco governativo, Montenegro acelerou a indigitação mas terá de reduzir a aceleração política através de estratégias que entreguem uma visão para o país que ainda muitos não vislumbraram. A manutenção do “não é não” na política de alianças fará crescer a ideia de que a confiança ainda é um valor central na política.

Os grandes desafios do governo de Luís Montenegro serão os de operacionalizar, em tempo recorde, uma distribuição generosa de benesses por um conjunto de agitadores supostamente desprezados pelo PS. A paz social pode sair cara e Montenegro terá de pagar bom preço pela estabilidade que lhe permita caminhar na legislatura sem atiçar monstros ou oposições. Dar tudo ou nada, sem meio termo, despejando um saco de moedas. Até ao lavar dos cestos é vindima, mas sabemos como a demagogia impera e opera nas artes finais. Da Primavera ao Inverno é um pequeno salto.

Após o encerramento da contagem dos círculos da emigração, Suíça e Luxemburgo atiraram a extrema-direita para a liderança, enquanto o Brasil colocou Augusto Santos Silva fora do Parlamento. Esta espécie de ajuste de contas com o presidente da Assembleia da República promovido pela interferência de bolsonaristas na campanha eleitoral, através de apoios, campanhas e “fake news”, é uma pequena dose de ironia extremista dirigida a quem sempre combateu ferozmente a demagogia e que sempre recusou ceder à chantagem e à arruaça parlamentar.

Recebido, hoje à tarde, por Marcelo Rebelo de Sousa, competirá ao presidente da República assinalar que um seu eventual sucessor cujo tempo político desacelerou e que não foi sequer eleito deputado não se refugiou na facilidade de um lugar numa lista continental anónima. Este foi apenas um aperitivo do teatro das eleições, onde nada parece interessar ou impedir o voto de protesto de um eleitorado que elegeu, pelo círculo eleitoral da Europa, um deputado emigrante ilegal em França durante anos e que chegou a ser expulso duas vezes até conseguir obter a residência legal. Para um partido que defende a expulsão dos imigrantes ilegais, a piada estaria feita não fosse tudo isto trágico. Sem fronteiras, independentemente dos apeadeiros ou das estações.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

QOSHE - Primavera Montenegro - Miguel Guedes
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Primavera Montenegro

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22.03.2024

O tempo político legislativo acelerou e todas as eleições que aí vêm colocaram pé no travão. Sejam europeias, autárquicas ou presidenciais, as próximas chamadas à urna em Portugal estarão sempre contaminadas pelo calendário legislativo e pelo espectro de instabilidade que paira sobre este novo ciclo de governação. O dia 1 em Primavera. Luís Montenegro deu-se ao sacrifício, pedindo a Marcelo Rebelo de Sousa que o indigitasse antes de partir para Bruxelas, imolação que o coloca na Europa com maior pompa e circunstância e com menos horas de sono. Sem muito tempo livre para confirmar os nomes do novo elenco governativo, Montenegro acelerou a indigitação mas terá de reduzir a aceleração política através........

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