A crise institucional é evidente e não se resume a episódios de arremesso entre instituições, em sentido abstracto, como se as arestas a limar aparecessem entre organismos desabitados, inertes, sem ocupação por eleitos. As pessoas no seu contexto. Um período eleitoral já parece curto para definir a liderança do país que, como tal, avança para eleições sucessivas. Sem contarmos com as inesperadas, ainda por marcação.

Se é indigno o passa culpas entre Marcelo Rebelo de Sousa e Governo no caso das gémeas, pior é o silêncio que parece sustentar o fogo de artifício seco e a paz podre conciliadora entre alguns dos intervenientes. Quando é evidente que muitos protagonistas sentiam que-aquele-não-era-um-caso-como-todos-os-outros, a percepção da pressão tem de ser explicada detalhadamente sob pena de não restar pedra sobre pedra no topo da pirâmide do sistema. Pressão. Também aqui, as instituições são as pessoas e a sua incapacidade de resistir às circunstâncias. Mesmo quando é o sistema democrático que parece ruir entre as suas mãos e pelos seus actos.

Neste contexto de crise, a eleição interna no PS, neste fim de semana, assemelha-se a um voto para primeiro-ministro. Essa é a ideia que Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro pretendem fazer passar, aproveitando a falta de descolagem de Luís Montenegro nas sondagens, como se assegurassem que o actual líder do PSD só tem uma eleição a perder. A campanha para as directas no PS terminou ontem e deixou bem claro que, por realismo ou soberba, há um poder que acredita que o seu momento não chegou ao fim pela leitura de um ponto final, parágrafo.

Se o realismo pagasse imposto, muitos militantes do PSD aproveitariam para pagar por directas no imediato. O desconforto perante a incapacidade de mobilização da sua liderança, mesmo após a sucessão de casos e casinhos da maioria absoluta de António Costa, não permite ascender a um patamar de confiança que não dependa de resultados de terceiros. Com quase todos os indicadores a apontar para a derrota no confronto directo com a futura liderança do PS, a resolução do novelo do PSD está intimamente ligada à crise na justiça, às notícias ou conclusão sobre as investigações em curso ou ao crescimento de uma Direita não democrática que lhe embale um Governo. Suspensão. Quando já ninguém depende de si e depois de criar monstros, sente-se que o PSD olha para os lados e só encontra o CDS.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

QOSHE - Um país suspenso na pressão - Miguel Guedes
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Um país suspenso na pressão

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15.12.2023

A crise institucional é evidente e não se resume a episódios de arremesso entre instituições, em sentido abstracto, como se as arestas a limar aparecessem entre organismos desabitados, inertes, sem ocupação por eleitos. As pessoas no seu contexto. Um período eleitoral já parece curto para definir a liderança do país que, como tal, avança para eleições sucessivas. Sem contarmos com as inesperadas, ainda por marcação.

Se é indigno o passa culpas entre Marcelo Rebelo de Sousa e Governo no caso das gémeas, pior é o silêncio que parece sustentar o fogo de artifício seco e a paz podre conciliadora entre........

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