Durante os debates relâmpago, sobram os argumentos polígrafo. Como modelo, o toca e foge. Um “kiss and tell” no espaço de 30 minutos para fazer a diferença em modo monólogo com altercações várias e pedidos de defesa da honra à mesa. Como notas em subtítulo, as juras sobre o que é verdade numa campanha política repleta de demagogia onde essa verdade, se interessa, não é reconhecida como elemento fundamental. Mais do que interessados na verdade, os eleitores e alguns comentadores parecem apresentar-se no pelotão da frente daqueles que só querem saber sobre quem mente. A verdade interessa pouco quando a perseguição a quem não diz a verdade já ganhou e as notas artísticas não têm a mentira como ponderação.

Esgotaram-se os debates entre candidatos a primeiro-ministro, líderes de audiência no segmento político, e a campanha segue nos moldes tradicionais que conduzirão às tradicionais arruadas. Poderá especular-se se uma segunda ronda de debates poderia minorar a abstenção nas urnas ou se restabeleceria o mesmo grau de cansaço nos telespectadores que se tem feito sentir nos eleitores em eleições sucessivas. Os bravos do pelotão em feiras poderão voltar à tradicional forma de fazer política que garanta os votos dos mesmos, mas haverá, certamente, arruadas bem diferentes e extremadas no momento em que se comemoram os 50 anos do 25 de Abril.

Às voltas com a verdade, Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro digladiam números que dificilmente sustentam ou entendimentos reversíveis sobre o que pode ser a governabilidade do país. O líder do PSD atira com números errados sobre o corte a todos os pensionistas, enquanto o líder do PS atira certeiramente que a perda em impostos do programa da AD, em quatro anos, ascende a 16,5 milhões de euros. Mas é o mesmo Pedro Nuno Santos que acerta e o que afirma viabilizar um governo minoritário do PSD para a seguir se desobrigar. A sua grande afirmação no debate, claramente vitorioso, esvai-se em poucas horas. No momento em que os portugueses se revêem ao espelho numa crise de afirmação, é estranho que os políticos lhe entreguem falsas certezas em ritmo expresso.

O momento da verdade está para chegar e servirá António Costa como protagonista. Será ele o dínamo do desempate, o factor de equilíbrio de um veículo socialista que parece agora estar a realinhar-se depois de tantos debates em que Pedro Nuno Santos se anulou. Até às eleições, como nas motas com sidecar, Pedro Nuno Santos viajará sempre com António Costa ao lado.

(O autor escreve segundo a antiga ortografia)


QOSHE - Verdade de quem mente - Miguel Guedes
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Verdade de quem mente

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23.02.2024

Durante os debates relâmpago, sobram os argumentos polígrafo. Como modelo, o toca e foge. Um “kiss and tell” no espaço de 30 minutos para fazer a diferença em modo monólogo com altercações várias e pedidos de defesa da honra à mesa. Como notas em subtítulo, as juras sobre o que é verdade numa campanha política repleta de demagogia onde essa verdade, se interessa, não é reconhecida como elemento fundamental. Mais do que interessados na verdade, os eleitores e alguns comentadores parecem apresentar-se no pelotão da frente daqueles que só querem saber sobre quem mente. A verdade interessa pouco quando a perseguição a quem não diz a........

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