Cumpridos os primeiros 50 anos de democracia em Portugal, não basta fazermos a elegia do costume e celebrar as conquistas da educação ou da saúde. É importante fazer uma análise crítica das circunstâncias e reconhecer que o país não vive o seu melhor momento político, que se instalou uma desconfiança generalizada da população nas instituições e que a disponibilidade para a participação cívica ou associativa é cada vez mais reduzida.

Mais do que fazer grandes reflexões sociológicas sobre o tema, importa sobretudo perceber como é possível reverter este quadro e que papel compete aos atores mais relevantes assumir. Desde logo, exige-se aos partidos moderados uma mudança de atitude, que se traduza num apurado sentido de responsabilidade, na pedagogia do bom senso e numa rejeição absoluta do populismo como estratégia. Só uma correção clara de rumo poderá baixar a polarização eleitoral e diminuir o apetite crescente pelos extremos.

Na mesma linha, aqueles que desempenham funções públicas devem bater-se por causas e convicções, não por interesses pessoais. Só uma atuação ética exemplar dos nossos líderes e representantes pode ajudar a devolver a credibilidade às organizações e neutralizar o discurso demagógico que rotula todos como iguais.

Os média também devem assumir a sua quota-parte de responsabilidade, uma vez que estão longe de contribuir para o esclarecimento sério e informado da população. Pelo contrário, cedem demasiadas vezes espaço ao sensacionalismo mais primário, que desvirtua ou retira factos do contexto e só serve para instigar preconceitos junto da população ou suspeições infundadas em matérias de natureza judicial - esta uma das principais perversões do Estado de direito a que temos vindo a assistir de forma mais recorrente.

Em última instância, a luta por credibilizar o regime e restaurar a confiança dos cidadãos convoca todos os que acreditam na liberdade e na democracia. Travá-la, de forma séria e empenhada, é a melhor homenagem que podemos fazer ao espírito do 25 de Abril e à memória dos seus construtores.

QOSHE - 25 de Abril e a luta que devemos travar - Nuno Botelho
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25 de Abril e a luta que devemos travar

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24.04.2024

Cumpridos os primeiros 50 anos de democracia em Portugal, não basta fazermos a elegia do costume e celebrar as conquistas da educação ou da saúde. É importante fazer uma análise crítica das circunstâncias e reconhecer que o país não vive o seu melhor momento político, que se instalou uma desconfiança generalizada da população nas instituições e que a disponibilidade para a participação cívica ou associativa é cada vez mais reduzida.

Mais do que fazer grandes reflexões sociológicas sobre o tema, importa........

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