Não terei sido o único a reparar, mas há um impressionante catálogo de temas sobre os quais a campanha das legislativas ofereceu um inquietante silêncio. Muitos deles são atuais, foram determinantes para a vida do país nos últimos anos e, sobretudo, serão decisivos no futuro próximo.
Na longa lista de omissões, a TAP merece lugar de destaque. Apesar de haver uma privatização em curso, de um dos principais candidatos ter especiais responsabilidades sobre o tema, e de se apresentarem visões distintas sobre este processo, não me recordo de uma única troca de argumentos sobre o assunto. Para piorar, o PS tem uma singela referência à TAP no seu programa, que deixa em aberto um possível recuo sobre a venda da companhia.
Outro estranho silêncio se abateu sobre a educação. Além da polémica com o tempo de serviço dos professores, teria sido importante olhar para a questão estrutural e assumir, com coragem, que a escola pública está numa rampa deslizante, com perda acelerada de qualidade e a oferecer cada vez menos confiança a muitas famílias portuguesas.
A agricultura também esteve ausente da discussão política, com exceção do alarido provocado pelos protestos de janeiro. O setor enfrenta ameaças várias, com destaque para os fenómenos climáticos extremos e a péssima gestão da água que é feita no país, mas não entra na coreografia político-mediática. Como não entra a floresta - adormecido que está o efeito dos incêndios de 2017 - a crise demográfica ou a reforma tabu, que dá pelo nome de regionalização.
Finalmente, causa perplexidade como não se discute política externa em Portugal. Prosseguimos nesta visão paroquial e isolada do Mundo, onde só se fala na Europa quando há fundos europeus para receber, e nas guerras internacionais quando é para mostrar simpatias por um ou outro lado da contenda. O resultado deste alheamento é termos candidatos que nem se obrigam a partilhar uma visão geopolítica para o país.
Em boa verdade, a culpa de transformar questões estruturais em não-assuntos não é exclusiva dos políticos. É, em grande medida, responsabilidade de uma comunicação social viciada em intrigas e pouco ou nada exigente nos conteúdos. É pena que seja assim, mas é sintomático do estado a que chegamos.