A forma, sempre ela. Atentemos na forma e não no conteúdo, porque é sobretudo a forma que pode determinar o êxito da estabilidade política nos próximos meses. A Esquerda ensaia uma nova geringonça, movida em grande medida pela repulsa ao Chega, mas respaldada nos 91 deputados que, embora não sendo maioritários, conseguem ser sonoros. A Direita, aqui considerados PSD, CDS e IL, partilha da mesma repulsa pelo partido de André Ventura, mas na contagem de espingardas a conversa é outra: não passa dos 87 mandatos. Ora, mesmo que, por hipótese, os quatro lugares por atribuir, dos círculos da Europa e fora da Europa, pendessem para o PSD, teríamos um empate entre dois blocos. No fundo, ficaria tudo encalhado. Um país ingovernável.

É por isso que o “detalhe” dos 48 deputados do Chega irá sempre determinar a governabilidade do país, por mais voltas que dermos. Por mais cercas sanitárias que queiram erguer em seu redor. Mas, como em tudo na vida, também na política as negociações obrigam a capitular, a engolir sapos. Mais do que ameaçar já com moções de censura ou chumbos orçamentais, a pergunta que os partidos (todos) devem fazer-se é: quanto vale, para cada um deles, a estabilidade do país? E aqui voltamos ao início. Valorizar o conteúdo e não a forma.

Vejamos: não faltam temas comuns a PSD e Chega (pensões, devolução do subsídio de risco a polícias, cortes nos impostos), porém o debate prioritário talvez não devesse ser este, mas sim o de recentrar a pergunta em torno dos dois maiores partidos: afinal, o que estão PS e PSD dispostos a fazer para garantir a estabilidade? É assim tão lesivo da honra e do capital político de ambos poderem admitir, sequer, a possibilidade de um entendimento? Porque são imensas as áreas em que estão alinhados: salário mínimo, fusão de prestações sociais, reformas a tempo parcial, estímulo ao investimento, energias renováveis, igualdade de género, ajudas aos jovens no crédito à habitação. Parem de tentar adivinhar o que podem pensar os portugueses sobre um possível acordo de cavalheiros. Ajam com o país no pensamento e não com a máquina calculadora no bolso.

QOSHE - A estabilidade e os sapos - Pedro Ivo Carvalho
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

A estabilidade e os sapos

7 45
16.03.2024

A forma, sempre ela. Atentemos na forma e não no conteúdo, porque é sobretudo a forma que pode determinar o êxito da estabilidade política nos próximos meses. A Esquerda ensaia uma nova geringonça, movida em grande medida pela repulsa ao Chega, mas respaldada nos 91 deputados que, embora não sendo maioritários, conseguem ser sonoros. A Direita, aqui considerados PSD, CDS e IL, partilha da mesma repulsa pelo partido de André Ventura, mas na contagem de espingardas a conversa é outra: não passa dos 87 mandatos. Ora, mesmo que, por........

© Jornal de Notícias


Get it on Google Play