Os barómetros informais são altamente frágeis, mas, quando cruzados, permitem-nos fazer algumas projeções, mesmo que arriscadas. Um grupo de amigos à mesa de jantar, uma conversa descomprometida ao balcão do café, uns desabafos extemporâneos na fila do supermercado. E a mesma pergunta-equilibrista sobre a cabeça de todos: em quem vão votar os portugueses nas eleições de 10 de março? Eles que estão desencantados, que deram uma maioria absoluta a um Governo que se autodestruiu, que olham em redor e percebem que não há, de entre os vários projetos na montra eleitoral, nada que seja verdadeiramente cativante e mobilizador. Mas não me entendam mal. Aqui não se procura desincentivar o ato de votar. Votemos todos, sempre, em consciência. É a única forma de exercermos a nossa cidadania plena e de, no dia 11 de março, qualquer que seja o resultado final, não chorarmos lágrimas salgadas por falta de comparência.

Mas a campanha não sairá disto: a Direita a atacar o legado do PS, o Chega a atacar todos, a Esquerda a atacar o legado do PS e o PS a defender-se em via dupla: pela voz do secretário-geral e candidato a primeiro-ministro, Pedro Nuno Santos, e pela voz de António Costa, ex-secretário-geral e primeiro-ministro de um Governo em gestão.

Os socialistas têm, por isso, uma vantagem natural sobre os contendores (e vamos esquecer as sondagens, em que também são bafejados). Ter um político de mão-cheia como António Costa sem freio até março pode ser decisivo para legitimar Pedro Nuno no cadeirão do poder. Ao Governo impõe-se recato (ontem, Costa carregou num botão para lançar o concurso do TGV que o PS andou a arrastar durante anos!) e do presidente da República exige-se uma vigilância ativa que torne menos viciado o jogo democrático. Se esperarmos pelo bom senso de quem se moldou ao poder, estamos bem arranjados.

QOSHE - A via dupla do poder - Pedro Ivo Carvalho
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A via dupla do poder

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13.01.2024

Os barómetros informais são altamente frágeis, mas, quando cruzados, permitem-nos fazer algumas projeções, mesmo que arriscadas. Um grupo de amigos à mesa de jantar, uma conversa descomprometida ao balcão do café, uns desabafos extemporâneos na fila do supermercado. E a mesma pergunta-equilibrista sobre a cabeça de todos: em quem vão votar os portugueses nas eleições de 10 de março? Eles que estão desencantados, que deram uma maioria absoluta a um........

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