Fazer o balanço de uma guerra será sempre um exercício coxo, sujeito a falhas. E devia ser sempre um exercício inútil, porque nenhuma guerra é digna de merecer um balanço. Mas o dia 24 de fevereiro abateu-se sobre o Mundo sem aviso, transformando, de forma direta e indireta, a nossa vida coletiva.

Passam hoje dois anos da invasão militar da Ucrânia, que nos fez acordar para um gigante adormecido chamado Rússia, que nos deixou comovidos com um povo bravo como o ucraniano, que nos fez perceber, sem reticências, como o bloco ocidental está cada vez mais desunido em torno dos Estados Unidos da América. E como a próxima liderança em Washington ditará o rumo deste conflito. A economia global estremeceu, os preços dispararam, a corrida às armas acelerou, somando à indefinição do pós-pandemia um cardápio de agruras que todos dispensávamos.

À barbaridade inicial infligida pelo regime de Putin, seguiu-se a solidariedade dos estados ocidentais para com a causa ucraniana. Estamos, agora, na fase da penumbra, do esquecimento progressivo, da banalização. A fase em que a realidade assenta numa indefinição perigosa. É, por isso, fundamental ter presente que a Ucrânia continua a depender do resto do Mundo para se manter como nação independente. E, como em todas as guerras, isso só é possível com mais armas. Mais balas. Mais sangue. E nessa equação avulta um insondável ponto de interrogação que vai dar à América: se a Putin juntarmos o hipotético regressado Trump, que futuro poderá ter uma Kiev independente? Se nesse cenário assustador os líderes dessas duas potências nucleares alinharem a maldade, o que fará a Europa sem um exército único? A guerra vai longa, mas pode estar só no princípio.

QOSHE - Barbaridade, solidariedade e realidade - Pedro Ivo Carvalho
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Barbaridade, solidariedade e realidade

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24.02.2024

Fazer o balanço de uma guerra será sempre um exercício coxo, sujeito a falhas. E devia ser sempre um exercício inútil, porque nenhuma guerra é digna de merecer um balanço. Mas o dia 24 de fevereiro abateu-se sobre o Mundo sem aviso, transformando, de forma direta e indireta, a nossa vida coletiva.

Passam hoje dois anos da invasão militar da Ucrânia, que nos fez acordar para um gigante adormecido chamado Rússia, que nos........

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