A União Europeia (UE) deu um sinal muito importante ao Mundo sobre quão criativa consegue ser a atividade diplomática e, sobretudo, quão empenhada está em não ficar para trás na definição do futuro mapa geopolítico que é hoje delineado a traços grossos por Estados Unidos, China, Rússia e Índia. O elefante na sala no Conselho Europeu foi o habitual: Viktor Orbán, o gongórico primeiro-ministro da Hungria e aliado de peso de Moscovo no Velho Continente. Era necessária unanimidade para aprovar o início das conversações para formalizar a adesão da Ucrânia à UE e a Alemanha lembrou-se que essa unanimidade podia ser alcançada não por todos os estados-membros, mas por todos os estados-membros que estivessem na sala no momento da votação. Orbán foi então convidado a sair e, dessa forma astuta, tomou-se uma decisão histórica, ficando, ainda assim, adiado o compromisso de passar mais um volumoso cheque de 50 mil milhões de euros para a reconstrução e modernização daquele país. Mas enfim, Orbán não podia regressar a casa com duas derrotas.
Naturalmente que a este desfecho não foi alheia a decisão, tomada dias antes por Bruxelas, de desbloquear 10 mil milhões de euros do fundo de coesão que estavam cativos a Budapeste por incumprimento de regras democráticas. Orbán já veio espernear, garantindo que o processo de adesão será longo e que, mais à frente, ainda pode fazer estragos. Mas lembrou que tudo é negociável, caso todos as verbas retidas à Hungria sejam disponibilizadas.
A Europa não podia recuar no apoio a Kiev e fê-lo de forma pragmática: eliminando a ovelha negra da equação. No caso em apreço, o expediente encontrado até pode ter um fundamento aceitável, mas não podemos ignorar que a porta a tentações futuras ficou aberta. A de deixar de castigo fora da sala quem não alinha pela unanimidade democrática.