Felizmente que, como tantas vezes acontece entre nós em temas que envolvem organização do Estado e logística de larga escala, tudo acabou por correr bem no final. É verdade que tivemos de esperar mais de dez dias depois das eleições para ficar a conhecer o resultado da votação dos emigrantes e a distribuição de quatro mandatos que até podiam ser decisivos. E que, por via dos sucessivos atrasos na receção e contagem desses votos, até fomos capazes de inovar, mostrando ao Mundo um primeiro-ministro indigitado de madrugada pelo presidente da República. Mas tudo está bem quando acaba bem. E o país segue, indiferente à forma indecorosa como, mais uma vez, os emigrantes foram tratados, dois anos depois das trapalhadas pós-eleitorais que resultaram em impugnações, clamor coletivo e zero consequências.

PS e PSD são os maiores responsáveis. Não é admissível que não tenha sido encontrada uma forma de os emigrantes poderem votar umas semanas antes do dia formal da eleição, não atrasando, com isso, a formação do novo Parlamento. E não é sobretudo entendível que, mais uma vez, milhares e milhares de boletins desses portugueses que querem continuar a exercer a sua cidadania ativa longe do seu país tenham pura e simplesmente ido parar ao lixo. Na verdade, um em cada quatro votos não contou para nada. Tudo porque, de forma anacrónica, só os boletins com cópia do cartão de cidadão associada são válidos. Ora, muitos emigrantes não querem, e bem, partilhar dados pessoais por correio. Voto eletrónico? Nem pensar. É inseguro, mesmo que haja países, como a França, que o usam. A nossa criatividade é tal que, nas próximas eleições, as europeias, os emigrantes vão poder votar presencialmente (como sucede nas presidenciais). Dito isto, vamos continuar a fingir que não percebemos por que razão o Chega foi o partido mais votado no estrangeiro?

QOSHE - Democracia para o lixo - Pedro Ivo Carvalho
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Democracia para o lixo

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23.03.2024

Felizmente que, como tantas vezes acontece entre nós em temas que envolvem organização do Estado e logística de larga escala, tudo acabou por correr bem no final. É verdade que tivemos de esperar mais de dez dias depois das eleições para ficar a conhecer o resultado da votação dos emigrantes e a distribuição de quatro mandatos que até podiam ser decisivos. E que, por via dos sucessivos atrasos na receção e contagem desses votos, até fomos capazes de inovar,........

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