Vai estar frio, a chover, é domingo, é sempre ao domingo, não há nenhum candidato ou programa eleitoral que o seduza, o modelo de votação está amarrado ao passado, está cansado da falta de respostas aos seus problemas, anda desencantado com o rumo do país e da vida. Com a agravante de que eles são todos iguais (maus) e, por isso, nada merecedores do seu tempo. No fundo, você está entre os portugueses que acreditam que o voto não muda nada.

Não estão aqui todas, mas estão certamente algumas das razões que qualquer cidadão com mais de 18 anos pode invocar para prescindir do dever de escolher nas eleições legislativas. Só que a mais poderosa arma em democracia continua a ser o voto, ainda que os dados dos últimos anos demonstrem que o fosso entre o eleitorado e os eleitos tem vindo a agravar-se. Desde 1975 que a abstenção tem aumentado de forma consistente, tendo sido mais nociva nas eleições presidenciais e europeias, com taxas de não comparência acima dos 60%. Mesmo descontando o impacto considerável dos eleitores-fantasma nestes números (e falamos de cerca de um milhão de almas votantes que, na prática, não deviam contar), não podemos ignorar o peso político deste exército de desistentes. A democracia portuguesa tem muitos defeitos, mas é lassa nas virtudes que contempla. Desde logo a de permitir que quem não quiser ir votar não vai. Sem que nada lhe aconteça. Porém, quaisquer que sejam as atenuantes que possamos aduzir para nos abstermos, a obrigação de o fazermos sobrepõe-se ao resto.

As regras são simples: se quisermos continuar a viver num regime democrático e livre temos de manter uma voz ativa. Votemos à esquerda, à direita, ao centro, em branco, mas votemos. Não deixemos que os outros escolham por nós. O futuro de todos depende da ação solitária de cada um. Querem ficar em casa? Depois não se queixem.

QOSHE - Depois não se queixem - Pedro Ivo Carvalho
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Depois não se queixem

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09.03.2024

Vai estar frio, a chover, é domingo, é sempre ao domingo, não há nenhum candidato ou programa eleitoral que o seduza, o modelo de votação está amarrado ao passado, está cansado da falta de respostas aos seus problemas, anda desencantado com o rumo do país e da vida. Com a agravante de que eles são todos iguais (maus) e, por isso, nada merecedores do seu tempo. No fundo, você está entre os portugueses que acreditam que o voto não muda nada.

Não estão........

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