A imagem é gasta, mas nem por isso menos eficaz, porque traduz de forma categórica o espírito da COP28, a Cimeira do Clima das Nações Unidas (ONU) que, mais uma vez, vai frustrar as expectativas dos ambientalistas. Primeira inquietação: onde se realiza? Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, um dos dez maiores exportadores de petróleo do planeta. Segunda inquietação: é presidida por quem? Por um senhor chamado Sultan al-Jaber, que também é líder da empresa petrolífera estatal dos Emirados Árabes Unidos. Não fosse tudo isto bizarro, ainda ficamos a saber, graças a uma investigação da BBC e de um consórcio de jornalistas, que o homem que lidera o mais importante encontro ambiental do planeta já tinha uma agenda paralela acertada com representantes de mais de 15 nações para tratar de negócios envolvendo combustíveis fósseis. Os tais que o secretário-geral da ONU, António Guterres, quer ver eliminados (não mitigados, não diminuídos, mas eliminados) até 2030.

Aconteceu no passado e acontece agora. Os discursos dos líderes mundiais (menos dos EUA e da China, que esses não compareceram, apesar de serem os maiores emissores de gases) são impossíveis de contrariar nas intenções, mas dificilmente aplicáveis à vida real. E isto não quer dizer que António Guterres não está coberto de razão, quando agita as evidências científicas que projetam o globo para o precipício climático. O problema é que a urgência da revolução não é compaginável com as assimetrias do planeta. Os mais ricos vão continuar a depender durante muitos anos dos combustíveis fósseis e aos mais pobres preocupa sobretudo a garantia de que terão acesso a água potável e alimentos. A economia verde é uma necessidade, mas não deixa de ser um luxo do Mundo ocidental. Levar as raposas para o galinheiro não ajuda, mas baixar um pouco as expectativas, adequando-as às exigências atuais, talvez não fosse mal pensado. Íamos sentir-nos todos menos enganados.