Há quem considere que o turismo deve crescer sempre, não importa a que velocidade. E, quando se é proprietário predial, talvez isso ajude a pensar que o melhor para todos é não haver qualquer regulação. Nos últimos anos, foram vendidos muitos prédios, bem como lojas e restaurantes. O que não se vendeu, está cada vez mais orientado para quem nos visita. A economia depende muito disso: turismo e imobiliário. É pena que se gere sobretudo emprego mal pago para quem não consegue pagar um lugar onde viver perto do trabalho (senão em sobrelotação e condições sub-humanas).
Por estes dias, foi notícia o fecho da Mercearia do Bolhão. O proprietário vai passar a receber uma boa renda duma empresa espanhola que tem por imagem de marca uma vaca à porta. Entretanto, uma conhecida minha colocou no mercado de arrendamento um apartamento de 36m2 por 1000 euros por mês, na Rua de Camões.
Pode parar-se esta evolução das cidades? Dificilmente. Amsterdão tenta. Todavia, não parece assim tão complicado fazer com que a mudança seja mais suave e adequada ao interesse geral. Porque é que, em áreas de pressão, os municípios não aumentam 10 vezes o IMI dos andares vazios? A lei permite-o (e o aumento pode chegar até 30 vezes), forçando o aumento da oferta de habitação. Quanto à multiplicação de lojas com vacas, souvenirs, lâmpadas nas paredes, supermercados e restaurantes, porque é que os municípios – afinal para que serve a ANMP? – não forçam o fim da desregulação, para evitar que abra o que quer que seja não importa onde?
Antes que as cidades morram de sucesso!
* Geógrafo e professor da Universidade do Porto