A estátua “O Porto” deambulou durante um século pela cidade, sem nunca se fixar num local que fizesse jus à sua importância e simbolismo históricos. Erigida em 1818 nos antigos Paços do Concelho, na então Praça Nova, a escultura de João de Sousa Alão foi até aos dias de hoje mudando de localização por circunstâncias várias, umas mais atendíveis do que outras. A verdade é que esta itinerância acabou por desirmanar os portuenses da estátua, que foi perdendo relevância na memória coletiva da cidade.

Aquando do Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura, o monumento que representa o guardião da cidade foi transladado para o Terreiro da Sé. Tornou-se, muito justamente, um dos elementos centrais do projeto de reconstrução da Antiga Casa da Câmara, da autoria do arquiteto Fernando Távora. Esta torre medieval remete-nos para as origens do poder municipal e da participação cívica no Porto. Fazia, por isso, todo o sentido histórico-simbólico a colocação da estátua em lugar de destaque junto à casa.

Contudo, a Antiga Casa da Câmara foi votada ao abandono e a estátua voltou a mudar de localização, até ser recolhida para reserva municipal devido a obras do metro. Naturalmente que o Município do Porto não se podia conformar quer com a degradação da Antiga Casa da Câmara, quer com a triste sina da estátua.

Por conseguinte, o Município decidiu reabrir, em agosto último, a Antiga Casa da Câmara, enquanto valência do Museu do Porto. Foi feita assim justiça à cidade, que viu um dos seus principais monumentos resgatado a um vazio e silêncio incompreensíveis. O centenário do nascimento de Fernando Távora, que este ano se celebra, tornou inadiável a recuperação da torre medieval e a sua devolução aos portuenses.

Tratava-se, em ambos os casos, de uma afronta à memória, património e identidade do Porto. Ora, mal iria o Porto se não estimasse os seus símbolos, a sua História e o seu legado social e cultural. A estátua “O Porto” e a Antiga Casa da Câmara são vetores fundacionais de união e identidade de um povo secular, dinâmico e heterogéneo, tal como o são o Mercado do Bolhão, a Universidade do Porto - ou o “Jornal de Notícias”. É também sobre estes sólidos bastiões que assentam a liberdade e a autonomia de que esta cidade tanto se pode orgulhar.

Agora, é hora de celebrar o regresso da estátua “O Porto” a um local que dignifica inteiramente este monumento. Queremos promover o reencontro do Porto com uma das suas estátuas mais emblemáticas, tornando-a um centro nevrálgico da atividade cultural da cidade.

*Presidente da Câmara Municipal do Porto

QOSHE - Estátua “O Porto” recupera o seu simbolismo  - Rui Moreira
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Estátua “O Porto” recupera o seu simbolismo 

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09.01.2024

A estátua “O Porto” deambulou durante um século pela cidade, sem nunca se fixar num local que fizesse jus à sua importância e simbolismo históricos. Erigida em 1818 nos antigos Paços do Concelho, na então Praça Nova, a escultura de João de Sousa Alão foi até aos dias de hoje mudando de localização por circunstâncias várias, umas mais atendíveis do que outras. A verdade é que esta itinerância acabou por desirmanar os portuenses da estátua, que foi perdendo relevância na memória coletiva da cidade.

Aquando do Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura, o monumento que representa o guardião da cidade foi transladado para o Terreiro da Sé.........

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