O espetáculo oferecido pelos deputados na primeira sessão da XVI Legislatura na Assembleia da República (AR) pode ser considerado um interessante braço de ferro entre dois blocos políticos, mas coloca à vista indicadores preocupantes em relação ao que devemos esperar da governação do país.

Acertar com a extrema-direita um acordo para a eleição do presidente da AR resultou num erro tático do PSD. Não teria sido avisado olhar para o Partido Socialista como parceiro mais fiável? André Ventura tirou o tapete a Luís Montenegro logo à primeira oportunidade e ainda tentou passar a imagem de vítima. Os sociais-democratas não podem argumentar que foram rasteirados sem aviso, ninguém no PSD pode queixar-se, sequer, de o entendimento ter sido tornado público, porque, como vimos na semana passada, nem as conversas privadas com o presidente da República estão a salvo da necessidade de afirmação do líder dos populistas.

Se o acordo tivesse sido consumado, Aguiar-Branco teria sido eleito à primeira. Como não aconteceu, independentemente do que se passou a seguir, há duas conclusões a retirar. A primeira, que o episódio emerge como um golpe na credibilidade e prestígio da AR - suspeito até, atendendo à composição do Parlamento, que outros se seguirão; a segunda tem a ver com a incapacidade de sociais-democratas e socialistas se entenderem, pelo menos por antecipação, numa matéria importante para o processo democrático, que tem no Parlamento o grande motor. Em ambos os casos, os partidos do arco da governação saem com a imagem afetada perante o respetivo eleitorado, teoricamente mais moderado, composto por cidadãos que não se reveem no quanto pior melhor. Em política, até pode ser pelos piores motivos, mas há sempre alguém capaz de somar pontos. Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos não os somaram ontem.

QOSHE - A rasteira populista - Vítor Santos
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A rasteira populista

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27.03.2024

O espetáculo oferecido pelos deputados na primeira sessão da XVI Legislatura na Assembleia da República (AR) pode ser considerado um interessante braço de ferro entre dois blocos políticos, mas coloca à vista indicadores preocupantes em relação ao que devemos esperar da governação do país.

Acertar com a extrema-direita um acordo para a eleição do presidente da AR resultou num erro tático do PSD. Não teria sido avisado olhar para o Partido........

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