Concluímos, com esta edição, mais uma etapa do longo percurso que este jornal insiste em continuar a fazer. São 78 anos de publicação quase ininterrupta de um semanário que desde muito cedo se ligou à alma destas terras e das suas gentes. Uma aliança inquebrantável que, de resto, explica a longevidade de um título que nasceu e se manteve quase sempre em condições adversas. E o trajeto só não foi completamente linear porque a ditadura interrompeu esta marcha do tempo, ao suspender o JF durante seis meses em 1965; sendo este apenas um episódio - porventura o mais dramático - de uma vida atribulada, onde tantas vezes se tiveram de fazer das fraquezas forças para manter vivo o Jornal do Fundão. A vida deste semanário deve-se à ação de muitas mulheres e homens que ao longo de quase oito décadas se empenharam nesta causa de levar cada vez mais longe o sonho de António Paulouro, bem como aos muitos milhares de leitores que lhe deram a força e o prestígio que hoje reconhecidamente tem.

O Jornal do Fundão assinala o 78.º aniversário num contexto de grande adversidade para a imprensa. O cenário é extremamente difícil a nível económico para a esmagadora maioria dos títulos que continuam, cada um dentro das suas possibilidades, a tentar cumprir o desígnio de fazer jornalismo. A realidade da imprensa regional é ainda mais assustadora pela gritante falta de meios que não permite a muitos cumprir com a devida competência a função fundamental de informar com profundidade e amplitude. Bem sei que estamos todos saturados das lágrimas de crocodilo que se derramam quando, algures no país, mais um título fecha as portas. “Ai o jornalismo!”; “ai a democracia!”; “ai, a pluralidade!”; “ai o contraditório”!; “ai a saúde do espaço público!”. Mas, depois, tudo vai passando à medida que o triste facto se vai diluindo por entre o ruído e as inanidades habituais que servem sempre de cerimónia fúnebre para os títulos da imprensa. E alguns até se atreverão a pensar que nada disto é grave porque haverá sempre alguém que criará um site qualquer para se lá escreverem umas coisas e dizer que se está a fazer jornalismo. Os avisos andam por aí, para quem os quiser ver, ler e ouvir. No entanto, pouco ou nada se debate e, muito menos, se resolve. E a pergunta que se faz com cada vez mais insistência é muito simples: A quem interessa, realmente, uma imprensa debilitada e de mão estendida?

Voltemos ao Jornal do Fundão e ao compromisso que pretende continuar a manter para com a região. Quando a atual equipa que gere este semanário embarcou nesta aventura, em 2018, foi sobretudo pela paixão que todos tinham por um título e pelo que ele representava para cada um de nós, para uma região e para a história da imprensa em Portugal. Foi com essa paixão que nos entregámos a este desígnio de tentar manter vivo o sonho do fundador, que ao longo de várias décadas também teve de dobrar vários cabos das tormentas para levar o JF semanalmente para as bancas. Não temos a pretensão de ser infalíveis, de estarmos sempre certos e de tomarmos sempre as melhores opções. Somos homens e mulheres que apenas prometem dar o melhor todos os dias para manter acesa a chama de um semanário ímpar e garantir a viabilidade económica do título. E esta promessa só se continua a cumprir porque desse lado está a verdadeira alma deste jornal: Os nossos leitores.


QOSHE - 78 anos - Nuno Francisco
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78 anos

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26.01.2024

Concluímos, com esta edição, mais uma etapa do longo percurso que este jornal insiste em continuar a fazer. São 78 anos de publicação quase ininterrupta de um semanário que desde muito cedo se ligou à alma destas terras e das suas gentes. Uma aliança inquebrantável que, de resto, explica a longevidade de um título que nasceu e se manteve quase sempre em condições adversas. E o trajeto só não foi completamente linear porque a ditadura interrompeu esta marcha do tempo, ao suspender o JF durante seis meses em 1965; sendo este apenas um episódio - porventura o mais dramático - de uma vida atribulada, onde tantas vezes se tiveram de fazer das fraquezas forças para manter vivo o Jornal do Fundão. A vida deste semanário deve-se à ação de muitas mulheres e homens que ao longo de quase oito décadas se empenharam nesta causa de levar cada vez........

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