1- Durante este mês, o Jornal do Fundão vai centrar parte substancial da sua ação nas celebrações dos 50 anos do 25 de Abril. As iniciativas que vamos levar a cabo em parceria com várias instituições, são uma homenagem para aqueles que construíram um Portugal livre e democrático, muitos deles protagonistas sem lugar numa história que não lhes registou nem nome, nem ação, mas que na lúgubre noite do salazarismo acenderam luzes para que a nação encontrasse os caminhos de uma revolução que colocou ponto final a uma ditadura bafienta de 48 anos. É ainda obrigação acrescida pelo facto de neste jornal todos partilharem a convicção de que uma sociedade livre, desenvolvida, informada e exigente só se constrói longe das cangas dos totalitarismos e dos contos do vigário urdidos por quem, que por conveniência ou ignorância, ousa apontar virtudes a sistemas políticos discriminatórios e opressores. Uma outra razão é a própria existência do Jornal do Fundão, marca de informação singular na história da imprensa portuguesa, que foi um dos baluartes da resistência da imprensa à ditadura e cujo prestígio que hoje ostenta é em grande parte atribuído ao compromisso que sempre teve com a liberdade, mesmo em tempos em que era demasiado perigoso sonhar, sequer, com ela. Basta recordar apenas o episódio ocorrido em maio de 1965, quando o Estado Novo mandou encerrar o JF durante seis meses por ter noticiado a atribuição de um prémio literário a Luandino Vieira, então preso político no infame campo de concentração do Tarrafal. Seis meses de suspensão eram, obviamente, uma sentença de morte velada passada a um jornal. Ainda para mais a um semanário de uma, então, pequena vila do Interior. Seis meses sem as receitas dos leitores e dos assinantes e sem publicidade nas suas páginas. Mas, como se vê, não o conseguiram. E não o conseguiram porque as tais luzes de resistência foram acesas por tantos e tantas, cuja a história não registou o nome, mas que não deixaram cair este jornal. É também por elas e por eles, por quem caminhou com coragem e determinação por entre a escuridão e o medo de ter de fazer um jornal que não fosse um mero boletim laudatório ao serviço do regime, que devemos celebrar, sublinhar, gritar que apesar de todas as imperfeições — onde está a perfeição? — só a democracia e as garantias de total usufruto dos nossos direitos cívicos nos permitem ser cidadãos em pleno. O mínimo que todos devemos fazer é não defraudar a memória de quem, na madrugada de 25 de Abril de 1974, nos entregou as sementes de um novo país.

2 -Uma das curiosidades sobre o novo Governo era saber se a coesão territorial continuaria a ter estatuto de ministério. A confirmação chegou na semana passada quando se conheceram o nome dos ministérios e dos respetivos ministros: lá estava ele na lista dos ministérios do XXIV Governo Constitucional. É um facto que a mera existência de um ministério da Coesão Territorial não é garantia de coisa alguma mas, para já, não deixa de ser um bom sinal de que o entendimento de um desenvolvimento regional mais equitativo terá em Manuel Castro Almeida um representante no conselho de ministros. De resto, o novo ministro da Coesão Territorial terá, por certo, conhecimento de que a coesão se faz não tratando por igual aquilo que é profundamente desigual. E que os equilíbrios se corrigem beneficiando quem andou sempre atrás do prejuízo.

QOSHE - Abril! - Nuno Francisco
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Abril!

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03.04.2024

1- Durante este mês, o Jornal do Fundão vai centrar parte substancial da sua ação nas celebrações dos 50 anos do 25 de Abril. As iniciativas que vamos levar a cabo em parceria com várias instituições, são uma homenagem para aqueles que construíram um Portugal livre e democrático, muitos deles protagonistas sem lugar numa história que não lhes registou nem nome, nem ação, mas que na lúgubre noite do salazarismo acenderam luzes para que a nação encontrasse os caminhos de uma revolução que colocou ponto final a uma ditadura bafienta de 48 anos. É ainda obrigação acrescida pelo facto de neste jornal todos partilharem a convicção de que uma sociedade livre, desenvolvida, informada e exigente só se constrói longe das cangas dos totalitarismos e dos contos do vigário urdidos por quem, que por conveniência ou ignorância, ousa apontar........

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