Não é preciso recorrer a Luís Paixão Martins (LPM), o mais reputado consultor de comunicação nacional, que publicou recentemente um livro sobre sondagens, para antevermos a confusão que pode estar à espera do país no dia 10 de março. Por enquanto, todos os indicadores apontam para que das próximas eleições legislativas saia um parlamento fragmentado, sem uma maioria estável que tenha a esperança de levar a bom termo uma legislatura de quatro anos. Quando já nos apercebemos que vivemos num país em que nem sequer um partido com maioria absoluta consegue acabar mandatos, as perspetivas não parecem muito favoráveis tendo em conta aquilo que os estudos de opinião consistentemente nos indicam a dois meses das eleições. Quem leu “Como Mentem as Sondagens”, de LPM deu conta de um facto muito importante e que pode explicar muitos “erros” de previsão das sondagens: Uma parte considerável dos eleitores só decide em quem vai votar muito próximo das eleições, isto com o próprio dia da votação incluído. E não estamos a falar de escassos milhares de eleitores, mas sim de uma considerável fatia do eleitorado que consegue balançar definitivamente a vitória para um dos lados, transformado apregoados “empates técnicos” em maiorias absolutas de facto. Mesmo tendo em conta este dado, a perspetiva é que não se repetirão maiorias absolutas nas próximas eleições. Seja o PS ou seja a ressuscitada Aliança Democrática (AD) - que junta, tal como a original em 1979, PSD, CDS e PPM - terão muito provavelmente em mãos o desafio de conseguir entregar ao Presidente da República uma solução que consiga durar o tempo de uma legislatura. Os cenários que se podem colocar são infindáveis e passam, evidentemente, por políticas de alianças. À esquerda ir-se-á tentar um reavivar da geringonça com os mesmos ou com novos protagonistas. Uma eventual vitória do PS poderá tanto necessitar do apoio do Bloco de Esquerda ou da CDU, ou dos dois, ou ainda do Livre e do PAN. À direita, o caminho é mais estreito, restando apenas a Iniciativa Liberal para alcançar uma maioria, visto que Luís Montenegro já excluiu o Chega de um possível acordo. Até aqui, no campo meramente teórico, tudo parece encaixar bem. O problema vem depois, com as negociações a poderem resvalar para o insucesso. E também podemos somar à incerteza outros cenários que podem ocorrer com alguma probabilidade: O facto de o PS ganhar, mas a maioria dos deputados estarem sentados no lado direito do hemiciclo, inviabilizando qualquer acordo à esquerda para se formar um governo e vice-versa, com a AD a vencer as eleições, mas podendo ser bloqueada por uma maioria parlamentar de esquerda. Perante tudo isto, não deixa de ser curioso o facto do Expresso noticiar no último fim de semana que o Presidente da República já se está a preparar para o cenário de uma terceira dissolução, o que, a ocorrer, não deixa de ser algo de notável na democracia portuguesa, tendo em conta que uma dessas dissoluções - a que deu origem ao atual cenário - foi a de uma maioria absoluta parlamentar. Mas a verdadeira questão é apenas esta: Se isso acontecer e se para se sair do bloqueio que possa ocorrer não houver outra alternativa senão convocar novas eleições legislativas, alguém espera que escassos meses depois os resultados eleitorais sejam substancialmente diferentes daqueles que serão obtidos no dia 10 de março?

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De eleição em eleição até à maioria?

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10.01.2024

Não é preciso recorrer a Luís Paixão Martins (LPM), o mais reputado consultor de comunicação nacional, que publicou recentemente um livro sobre sondagens, para antevermos a confusão que pode estar à espera do país no dia 10 de março. Por enquanto, todos os indicadores apontam para que das próximas eleições legislativas saia um parlamento fragmentado, sem uma maioria estável que tenha a esperança de levar a bom termo uma legislatura de quatro anos. Quando já nos apercebemos que vivemos num país em que nem sequer um partido com maioria absoluta consegue acabar mandatos, as perspetivas não parecem muito favoráveis tendo em conta aquilo que os estudos de opinião consistentemente nos indicam a dois meses das eleições. Quem leu “Como Mentem as Sondagens”, de LPM deu conta de um facto muito importante e que pode explicar muitos........

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