1 - Apesar dos fastidiosos prognósticos de que somos brindados todos os dias, não sabemos em que estado o país sairá deste abalo político iniciado no dia 7, depois de termos sido descobertos por buscas mediaticamente espetaculares e os primeiros resultados o país começa agora a ver. Resultados esses que colocam este mesmo país numa posição de crescente ansiedade para se perceber se o final de tudo isto não se resumirá a uma entrada de leão e uma saída de sendeiro. Enquanto tudo isso passa à nossa frente, este mesmo país, pretende comemorar os 50 anos do fim da ditadura e o início da alvorada da liberdade, viu um Governo de maioria absoluta cair depois de pouco de um ano de ser eleito. Porque? Apesar de todo o ruído e gritaria que vai alimentar alguns fóruns públicos, a grande maioria - a que se mantém silenciosa, ponderada e atenta - espera para ver os contornos destas ações e se tudo o que envolveu este processo se justifica ou não. Depois de cada um, nas suas funções, - espera-se - tirará as devidas instruções. Para já, temos um Governo que caiu, fruto da missão do primeiro-ministro que justificou a saída com base num parágrafo de um comunicado do Ministério Público e que o implicava indiretamente em escutas. O que também já podemos ver são as primeiras sondagens feitas já durante a atual crise política e que traduzem resultados esperados. Não apresentam, evidentemente, números particularmente fulgurantes para os dois grandes partidos da democracia portuguesa, - PS e PSD - mas revelam-os para a extrema-direita. Apesar dos números entre as sondagens publicadas serem díspares, a tendência de crescimento está bem registrada, assente no bulício que para aí vai, com a crescente transformação da imagem das instituições democráticas e para a qual muitos dos que as representam têm contribuído, intencionalmente ou não , por ação ou por omissão. É, de resto, difícil encontrar paralelo com qualquer outro período da nossa democracia, onde as instituições da República se posicionam tão à maneira. Pedir uma reflexão profunda a todos neste momento e neste contexto, desde a presidência da república, ao governo, aos agentes políticos no geral e à justiça é tarefa impossível, mas talvez o possamos fazer a partir das eleições de 10 de março de 2024. um mês de comemoração dos 50 anos do 25 de Abril...

2- É óbvio que durante os próximos meses, o país fará pouco mais do que em modo de gestão, mesmo com a garantia da aprovação do Orçamento de Estado. As questões fundamentais para Portugal vão ser congeladas não só até às eleições, mas até à altura de ser constituído um novo Governo, isto se a futura composição da Assembleia da República der alguma garantia de se poder formar um Governo com alguma esperança de vida. Ou seja, estamos a falar de um país quase um ano a viver o dia-a-dia e na expectativa de que as coisas não se degradam ainda mais, quer no contexto interno, quer no volátil panorama internacional. Aos portugueses será pedida, mais uma vez, paciência e esperança. Mas uma e outra, preciso de exemplos. Exemplos éticos, em primeiro lugar, e, depois, de exemplos de confiança e de dedicação à coisa pública, sentido de Estado e preservação da imagem das instituições democráticas, construídas sobre o sofrimento de muitos portugueses. É isso que se exige ao futuro primeiro-ministro deste país. E já não há muito mais espaço de manobra para errar.

QOSHE - O que aí vem... - Nuno Francisco
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

O que aí vem...

3 0
15.11.2023

1 - Apesar dos fastidiosos prognósticos de que somos brindados todos os dias, não sabemos em que estado o país sairá deste abalo político iniciado no dia 7, depois de termos sido descobertos por buscas mediaticamente espetaculares e os primeiros resultados o país começa agora a ver. Resultados esses que colocam este mesmo país numa posição de crescente ansiedade para se perceber se o final de tudo isto não se resumirá a uma entrada de leão e uma saída de sendeiro. Enquanto tudo isso passa à nossa frente, este mesmo país, pretende comemorar os 50 anos do fim da ditadura e o início da alvorada da liberdade, viu um Governo de maioria absoluta cair depois de pouco de um ano de ser eleito. Porque? Apesar de todo o ruído e gritaria que vai alimentar alguns fóruns públicos, a grande maioria - a que se mantém silenciosa, ponderada e atenta - espera para........

© Jornal do Fundão


Get it on Google Play