É um lugar-comum afirmar-se que as “sondagens valem o que valem” e que a “a verdadeira sondagem são os votos contados no dia das eleições”. Tudo isto é sustentável, até porque ninguém sabe muito bem o que é que quer dizer “vale o que valem”. O que é certo é que ao lermos muitas das análises que acompanham os dados publicados pela imprensa, há o cuidado de dizer que este é um retrato do eleitorado num momento específico e que não serve de oráculo para o dia 10 de março. Não sabemos se este é um efeito visível do livro “Como mentem as sondagens”, onde o autor Luís Paixão Martins sublinha bastas vezes que um dos maiores disparates que se podem fazer é pensar que uma sondagem prediz o que se vai passar dali a uma, duas ou três semanas. Não vai, que ninguém se iluda com isso, até porque o mais reputado consultor nacional em comunicação refere que o eleitorado é uma entidade que se cria e dilui no dia das eleições. É sabido que há uma parte considerável desse mesmo eleitorado que só toma a decisão sobre em quem irá votar em cima do dia das eleições, facto que escapa às sondagens, principalmente àquelas que se realizam a grandes distâncias temporais dos atos eleitorais. Ou seja, o que vamos tendo conhecimento através dos meios de comunicação social são apenas frames de uma realidade dinâmica; uma realidade que com o encurtar do tempo, tenderá a ficar cada vez mais aproximada com o que a contagem dos votos irá revelar no dia 10. Mas nem isso é para ser tomado como certo, porque, apesar da competência e dos critérios inquestionáveis com que as sondagens são feitas pela maioria das empresas, estas dependem, sempre, em última instância, das respostas que os eleitores se prontificaram a dar e se essas respostas irão ser mesmo replicadas na hora do voto. Depois há sempre a grande incógnita dos muitos inquiridos que não respondem ou que se dizem indecisos e cujos comportamentos eleitorais são praticamente impossíveis de antecipar em sondagem, apesar dos critérios de distribuição usados pelas empresas tentarem antecipar esses comportamentos com base no histórico eleitoral, bem como nas tendências expressas de voto. Ou seja, as sondagens são muito importantes enquanto retrato de um certo momento político e o seu acompanhamento ao longo da pré-campanha e da campanha é um exercício interessante sobre as tendências que se desenham, que se consolidam e que poderão desaguar nas urnas de voto. E o que as sondagens nos têm dito insistentemente é que não irá haver uma maioria absoluta. Esta é, de resto, a tendência que se está a consolidar desde o início deste novo ciclo eleitoral, pelo que seria uma enorme surpresa se o PS ou a AD conseguissem eleger mais de 115 deputados para a Assembleia da República. É já relativamente seguro afirmar que tal não acontecerá. Com o PS e com a AD a alternarem a liderança nas sondagens, sem que nenhuma força consiga cavar (ainda) um fosso para a principal oponente, as conversas centram-se, cada vez mais, nas políticas de alianças à esquerda e à direita. Estamos a entrar num “novo normal” e à medida que os 230 lugares do Parlamento são distribuídos por cada vez mais partidos, menor é a hipótese de se repetirem as maiorias absolutas de Cavaco Silva, José Sócrates e António Costa. Portanto, quem achar que este capítulo político se encerra dia 10, está enganado. Só saberemos que Governo teremos muito tempo depois.

QOSHE - Sondagens, eleições e o que ainda aí vem - Nuno Francisco
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Sondagens, eleições e o que ainda aí vem

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21.02.2024

É um lugar-comum afirmar-se que as “sondagens valem o que valem” e que a “a verdadeira sondagem são os votos contados no dia das eleições”. Tudo isto é sustentável, até porque ninguém sabe muito bem o que é que quer dizer “vale o que valem”. O que é certo é que ao lermos muitas das análises que acompanham os dados publicados pela imprensa, há o cuidado de dizer que este é um retrato do eleitorado num momento específico e que não serve de oráculo para o dia 10 de março. Não sabemos se este é um efeito visível do livro “Como mentem as sondagens”, onde o autor Luís Paixão Martins sublinha bastas vezes que um dos maiores disparates que se podem fazer é pensar que uma sondagem prediz o que se vai passar dali a uma, duas ou três semanas. Não vai, que ninguém se iluda com isso, até porque o mais reputado consultor nacional em........

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