É tempo de alterar o caminho de fraco crescimento e de fracos aumentos de produtividade verificados ao longo das duas últimas décadas. Este caminho tem levado a um empobrecimento relativo de Portugal no seio da União Europeia.

Assistimos, inúmeras vezes, à defesa de soluções simplistas, apresentadas por alguns que, com golpes de magia, nos conduziriam a futuros radiosos. Outros passam a ideia de que, pura e simplesmente, não há alternativas para fazer diferente e melhor.

Não há, de facto, soluções mágicas, mas há alternativas. Na União Europeia, a economia portuguesa está entre as que apresentam mais baixos níveis e taxas de crescimento da produtividade. O que está, então, a travar a produtividade?

No caso da economia portuguesa, o stock de capital por trabalhador está entre os mais baixos da União Europeia, correspondendo a apenas 56% da média europeia. Ora, o investimento em capital é o veículo para a incorporação de inovação, de novas tecnologias, nas empresas e, assim, para o crescimento da produtividade.

É importante salientar o elevado endividamento das empresas portuguesas e a excessiva dependência do financiamento bancário, que privilegia os investimentos de curto prazo e de baixo risco, e as empresas com ativos que podem servir de garantia bancária. A escassez de instrumentos de financiamento de longo prazo, dirigidos a empresas inovadoras, continua a ser um constrangimento à reestruturação da economia portuguesa e ao seu crescimento.

A produtividade depende, também, da qualificação dos empresários, dos gestores, dos quadros intermédios, de todos os trabalhadores. O capital humano é, cada vez mais, o principal fator de diferenciação de qualquer empresa ou de qualquer nação. Apesar do aumento significativo nas gerações mais novas, o défice de qualificações constitui um entrave ao crescimento da produtividade, daí a importância de promover a formação ao longo da vida para recuperar o atraso ainda existente nas qualificações da população ativa.

A produtividade deve ser o objetivo prioritário, a variável-chave, de uma estratégia capaz de conduzir à transformação da economia, ao crescimento e à convergência. Por isso, no período eleitoral que se avizinha, desconfiemos de promessas inconsequentes e prestemos mais atenção ao que nos será proposto como via para estimular a produtividade das empresas portuguesas.

Um tema menos mediático, sem dúvida, do que tantos outros que ocupam mais espaço nos discursos partidários, mas do qual depende a prosperidade que desejamos para o nosso país.

QOSHE - A necessária produtividade - António Saraiva
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A necessária produtividade

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23.02.2024

É tempo de alterar o caminho de fraco crescimento e de fracos aumentos de produtividade verificados ao longo das duas últimas décadas. Este caminho tem levado a um empobrecimento relativo de Portugal no seio da União Europeia.

Assistimos, inúmeras vezes, à defesa de soluções simplistas, apresentadas por alguns que, com golpes de magia, nos conduziriam a futuros radiosos. Outros passam a ideia de que, pura e simplesmente, não há alternativas para fazer diferente e melhor.

Não há, de facto, soluções mágicas, mas há alternativas. Na União Europeia, a economia portuguesa está entre as que apresentam mais baixos níveis e taxas........

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