Aprendi ao longo da vida a dar um enorme valor à democracia e à liberdade. Valores que exigem uma ação inteligente, responsável e corajosa por parte dos moderados. Exigem uma ação inteligente porque, se extremismos e populismos se alimentam da difusão de mensagens simplistas e da manipulação da realidade, então, é preciso, pacientemente, desconstruir essas mensagens e denunciar a ficção.

Exigem uma ação responsável, que deve apresentar soluções reais aos anseios dos cidadãos, não deixando aos promotores da demagogia e da irresponsabilidade o monopólio da promessa de um futuro melhor e mais próspero.

Exigem, finalmente, uma ação corajosa, porque, se os populistas são aclamados pela sua aparente coragem, é preciso que os moderados afirmem verdadeira coragem na defesa intransigente dos seus princípios e valores fundamentais.

Aprendi, também, que a defesa da qualidade da democracia depende não só dos políticos, mas da sociedade civil. A partir de Abril de1974, os partidos políticos lideraram as transformações sociais, promoveram reformas estruturais, fixaram doutrinas económicas e procuraram ser sempre os depositários das expectativas dos diversos grupos sociais.

Foram, ao longo dos anos, concentrando poder e secando todas as formas de participação social que tentaram gravitar fora do seu espectro. Deixaram de ser motores da sociedade. Perderam dinâmica e capacidade de inovação. Abdicaram das causas em nome do pragmatismo. Preferiram as táticas à estratégia.

Defender a qualidade da democracia é hoje, 50 anos passados, responsabilidade dos partidos políticos, da sua capacidade para repensarem estratégias e a sua própria atuação. Mas depende, também, do dinamismo da sociedade civil. Só associados, das mais diversas formas, poderemos construir uma sociedade civil forte, dinâmica e, sobretudo, mais participativa.

É, pois, chegada a altura, uma vez mais, em que devemos refletir sobre o papel vital que cada um de nós desempenha na construção da sociedade que desejamos. É hora de darmos um passo em frente e exigirmos uma mudança. Ao votarmos, estamos a enviar uma mensagem clara do que esperamos dos nossos líderes.

A cidadania ativa é essencial para fortalecer a democracia. Não podemos simplesmente esperar que os outros tomem as rédeas e moldem o futuro por nós. Devemos eleger representantes que não falem apenas sobre ética e valores, mas que também os pratiquem em todo o seu trabalho.

QOSHE - Inquietemo-nos - António Saraiva
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Inquietemo-nos

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09.02.2024

Aprendi ao longo da vida a dar um enorme valor à democracia e à liberdade. Valores que exigem uma ação inteligente, responsável e corajosa por parte dos moderados. Exigem uma ação inteligente porque, se extremismos e populismos se alimentam da difusão de mensagens simplistas e da manipulação da realidade, então, é preciso, pacientemente, desconstruir essas mensagens e denunciar a ficção.

Exigem uma ação responsável, que deve apresentar soluções reais aos anseios dos cidadãos, não deixando aos promotores da demagogia e da irresponsabilidade o monopólio da promessa de um futuro melhor e mais........

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