Os avanços da Inteligência Artificial (IA) vieram alterar o paradigma vigente em muitas organizações. Até então era habitual ouvir-se a frase: “não me venha com problemas. Traga-me soluções”.

Com o advento de modelos de IA como o ChatGPT, o paradigma inverteu. Agora, o desafio não está na solução, que essa passou a ser a especialidade da IA, mas sim na formulação do problema. Quanto melhor formulado for o problema, melhor será o comando (prompt). E, por sua vez, mais sofisticada será a solução.

Um artigo publicado na “Harvard Business Review” indica que a formulação de problemas é uma habilidade amplamente negligenciada e subdesenvolvida nos dias que correm. Uma razão para isso é a ênfase desproporcional dada à solução de problemas em detrimento da formulação.

Um estudo recente revela, a propósito, que 85% dos executivos de Alta Direção consideram que as suas organizações são más a diagnosticar problemas.

Nem sempre assim foi. Na Grécia antiga, o filósofo Sócrates acreditava que ninguém tinha as respostas definitivas para as perguntas. Daí que Sócrates circulasse por Atenas, entre as pessoas, colocando questões. E, insatisfeito a cada resposta, formulava novas perguntas.

Este método é muito semelhante à engenharia do prompt. Hoje em dia, um dos skills mais relevantes para tirar partido do potencial da IA reside, precisamente, na capacidade de formulação de problemas, isto é, de identificar, analisar e delinear problemas.

Tal exige uma compreensão abrangente do domínio do problema e a capacidade de diagnosticar problemas do mundo real. Sem um problema bem formulado, até os prompts mais robustos falharão. No entanto, quando um problema é claramente definido, as nuances linguísticas de um prompt tornam-se tangenciais à solução.

Este novo paradigma traz consigo inúmeros desafios. A meu ver, por mais que se avance e mimetize as redes neuronais e o pensamento humano, e por mais exponencial que seja o alcance dos outputs da IA, o chip estará sempre na inteligência natural humana.

Assim como na nossa capacidade criativa e, agora, mais do que nunca, neste importante skill que é saber diagnosticar um problema, decompô-lo e analisá-lo em partes. Um ato científico e sem julgamento. Reformular e voltar a testar. É esta a arte de bem definir problemas.

Termino com uma frase atribuída a Einstein que, como qualquer visionário, já preconizava: “O importante é não parar de questionar. A curiosidade tem a sua própria razão de existir”. Ora bem!

QOSHE - A arte de bem definir problemas - Carolina Afonso
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A arte de bem definir problemas

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15.03.2024

Os avanços da Inteligência Artificial (IA) vieram alterar o paradigma vigente em muitas organizações. Até então era habitual ouvir-se a frase: “não me venha com problemas. Traga-me soluções”.

Com o advento de modelos de IA como o ChatGPT, o paradigma inverteu. Agora, o desafio não está na solução, que essa passou a ser a especialidade da IA, mas sim na formulação do problema. Quanto melhor formulado for o problema, melhor será o comando (prompt). E, por sua vez, mais sofisticada será a solução.

Um artigo publicado na “Harvard Business Review” indica que a formulação de problemas é uma habilidade amplamente........

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