A dinâmica da indústria alimentar e de bebidas é impulsionada por forças globais que moldam as tendências e influenciam as decisões dos consumidores. Um fator-chave é a presença de impulsionadores de megatendências, como as forças políticas, económicas, socais, ambientais e tecnológicas, que provocam mudanças à escala global e levam a alterações no estilo de vida, nos hábitos de consumo e no comportamento do consumidor.

A indústria agroalimentar nacional, que se tem assumido como um dos motores vitais das exportações portuguesas, está, pois, atenta às forças globais que moldam os “apetites” dos consumidores. Incorporá-las na sua oferta é a receita que garantirá o crescimento e acelerará o seu processo de internacionalização.

É com o intuito de disseminar e partilhar conhecimento com a indústria que a PortugalFoods apresenta, todos os anos, em parceria com a consultora internacional Innova Market Insights, aquelas que são as principais linhas orientadoras para a indústria agroalimentar no que diz respeito ao lançamento de novos produtos.

A indústria alimentar e de bebidas enfrenta uma era emocionante, em termos de inovação, evidenciando-se oportunidades únicas para as empresas portuguesas se destacarem globalmente. Estamos na presença de um setor inovador, que trabalha em cooperação com as entidades do sistema científico e tecnológico, para o desenvolvimento de produtos alinhados com as preferências e necessidades do consumidor.

São vários os exemplos de produtos que encontramos no mercado português que se encontram alinhados com as tendências apresentadas. As empresas portuguesas há muitos anos que trabalham a questão da melhoria nutricional dos seus produtos, que estudam o seu impacto na saúde e, mais recentemente, investem na procura de soluções que façam efetivamente a diferença em termos de sustentabilidade.

Embora a pressão inflacionária se continue a sentir, levando o consumidor a gerir de forma mais cautelosa os seus gastos, as tendências identificadas no estudo apresentado recentemente pela PortugalFoods sugerem que certos ingredientes-chave, alegações relacionadas com sustentabilidade e produtos mais saudáveis ditarão as preferências dos consumidores e irão justificar a compra por parte dos mesmos.

Esta primeira tendência está relacionada com determinados ingredientes e nutrientes e a sua relação com o consumidor. Um terço dos consumidores a nível global afirmam que verificam sempre os ingredientes na embalagem, respondendo positivamente a certos ingredientes-chave. Esses ingredientes vão desde a sabores favoritos até a ingredientes que são promovidos por influenciadores através das redes sociais. Destacam-se ingredientes como: macronutrientes (p.ex.: proteína), probióticos, cogumelos, prebióticos, ómega-3, entre outros.

A preocupação dos consumidores com o planeta é cada vez maior, o que leva as empresas a assumirem compromissos e a realizarem ações que protejam a natureza, à escala global.

Os consumidores querem perceber mais sobre agricultura regenerativa, as condições de produção animal ou modo como as marcas se ligam à natureza e ao meio ambiente. E sobre o que gostariam de ver clarificado por parte das empresas apontam, em primeiro lugar, as políticas de proteção da natureza, a utilização de embalagens sustentáveis e, por último, a melhoria na gestão de resíduos.

Os dados relativos aos lançamentos de novos produtos, nos últimos três anos, mostram que as marcas estão a investir além das áreas mais comuns quando se fala de sustentabilidade, como é o caso da proteção florestal e da redução do consumo de água. Além disso, estão a utilizar cada vez mais os rótulos dos produtos para comunicarem as iniciativas ambientais.

Em termos de saúde, a aposta é na prevenção, através da procura por produtos que respondam às necessidades quer de saúde, quer de bem-estar pessoal. As principais preocupações do consumidor são a saúde física, nomeadamente a gestão do peso, a saúde cardíaca e óssea.

De sublinhar ainda o papel da nutrição personalizada no apoio à prevenção, já que os consumidores procuram soluções holísticas, para obterem benefícios específicos (p.ex.: saúde da microbiota). Adicionalmente, o envelhecimento saudável é outra dimensão a que o consumidor, de todas as idades, tem vindo a atribuir importância.

O aumento da oferta de produtos plant-based tem sido uma constante e espera-se que, em 2024, estes produtos sejam adaptados a pratos tradicionais e convenientes, assim como a produtos alimentares e bebidas bem conhecidos pelo consumidor – o qual está disposto a incluir mais produtos de origem vegetal na sua alimentação diária.

De referir que o consumidor já não procura apenas produtos que tentam imitar/mimetizar a carne, o leite ou outros produtos proteicos de origem animal, mas sim produtos originais (“plant-unique”) que destacam as propriedades dos seus ingredientes de origem vegetal. Esta é uma categoria que pode também ser trabalhada do ponto de vista da inovação nos produtos gourmet (p.ex.: marisco de origem vegetal).

Esta tendência mostra a adesão do consumidor quer aos produtos que estão associados às suas origens, como aos produtos de origem global que possam destacar ingredientes locais. O consumidor encontra-se também muito aberto a experimentar diferentes tipos de culinária, de modo a poder experienciar a cozinha de diferentes zonas do globo. É uma oportunidade para as empresas e as marcas desenvolverem produtos, refeições e experiências étnicas, destacando ingredientes locais.

O impacto da pandemia COVID-19 e o aumento da inflação levaram a que o consumidor alterasse a forma como olha para o espaço o seu lar. A casa tornou-se um novo espaço para ocasiões sociais, incluindo refeições, ajustando-se aos orçamentos mais apertados e à melhor gestão dos aspetos de saúde. Desta forma, os consumidores assumem controlo da qualidade dos alimentos e podem preparar a refeição ou o momento de convívio a seu gosto. Podem ainda experimentar novos sabores, explorar diferentes tipos de culinária, optar por ingredientes locais, controlando os custos.

Os conceitos de saúde e de indulgência encontram-se, habitualmente, em lados opostos. Contudo, as marcas devem procurar combinar elementos associados à indulgência com alegações de saúde (p.ex.: sem adição de açúcar, menor uso de ingredientes artificiais, inclusão de nutrientes como vitaminas e minerais), uma vez que os consumidores estão focados nos aspetos de saúde e afirmam que estão dispostos a comprometer a indulgência por alimentos mais saudáveis – não estando disponíveis, apesar de tudo, a pagar mais por eles. Adicionalmente, também procuram produtos que limitam ou reduzem ingredientes não saudáveis e produtos que têm ingredientes naturais ou menos artificiais.

Os oceanos começam a ser explorados como as quintas do futuro, sendo uma fonte interessante de alimentos saudáveis, como as algas. No entanto, a pesca excessiva e a poluição colocam os oceanos em risco. Por isso, esta tendência explora não só o oceano como fonte de ingredientes, como também aborda os aspetos da proteção marinha e as oportunidades em torno das plantas marinhas.

Uma área de grande crescimento é a das microalgas, como fonte de origem vegetal de ácidos gordos ómega-3. Globalmente, nos últimos três anos, os lançamentos de alimentos e bebidas com microalgas tiveram um crescimento médio anual de mais de 40%, sendo de destacar a spirulina enquanto ingrediente conotado como ambientalmente positivo.

Com os benefícios funcionais e os nutrientes associados à água e às bebidas em grande destaque, há um crescimento em torno das bebidas desportivas e funcionais a que se associam os benefícios da hidratação. De referir que é fundamental que as marcas possam reduzir ou eliminar o uso de ingredientes como os corantes e os adoçantes, destacando os componentes e as características da bebida que possam agregar valor em torno da saúde (p. ex.: benefícios para a pele, reforço da imunidade, melhoria da microbiota).

Atualmente, o consumidor “consome” muita informação. Assim, as marcas devem procurar “minimizar o ruído”, através de uma comunicação simples e honesta, que possa traduzir-se em maior confiança por parte do consumidor. Uma das áreas que necessita de maior transparência por parte das marcas é a da sustentabilidade, sendo que os consumidores a nível global referem que gostariam de ver mais comunicação das empresas sobre, por exemplo, o esforço em torno da sustentabilidade da embalagem.

Além disso, os consumidores estão atentos ao greenwashing e, por isso, a estratégia de comunicação deve ser simples e direta, apostando num design minimalista, com um bom storytelling sobre o produto/empresa, que dê as informações necessárias sobre a componente nutricional, de saúde e a validade do produto, sem descurar a informação real dos esforços ligados com os temas ambientais e sociais.

De entre as 10 grandes tendências apresentadas, e as quais a indústria nacional tem vindo a acompanhar, de forma empenhada e inovadora, gostaria de destacar duas: a dedicada aos oceanos e a relacionada com a hidratação.

No que respeita à primeira, Portugal é um país de mar e, como tal, este é um recurso que deve ser protegido e explorado de forma responsável. As empresas nacionais ligadas à área do pescado e das conservas têm práticas responsáveis ligadas com a pesca, mas também são várias as empresas industriais, quer ligadas ao sal como à área das algas, que têm boas práticas de produção. Os consumidores estão preocupados com a saúde e o meio ambiente e, portanto, procuram água engarrafada pura e de qualidade, em embalagens ecológicas (como plásticos de base biológica, materiais reciclados) e de empresas com iniciativas claras de sustentabilidade.

Águas aromatizadas sem açúcar adicionado e sabores frutados é uma área em crescimento, tendo sido motivado pelas próprias redes sociais. Também empresas de água com compromissos claros com a saúde e o bem-estar estão em grande destaque como é o caso da água alcalina, a água com vitaminas e minerais adicionados ou ingredientes como o CBD e o colagénio. No geral, todas as empresas nacionais que atuam nesta área estão a trabalhar ao nível da sustentabilidade e da embalagem.

A indústria alimentar portuguesa ao incorporar elementos das tendências globais e ao adaptá-los às preferências locais, certamente continuará a prosperar tanto no mercado interno como externo, atraindo consumidores que valorizam a autenticidade, a qualidade, a saúde e o respeito pelo meio ambiente e a comunidade. No presente, o setor agroalimentar nacional continua a construir o seu futuro.

QOSHE - Para onde nos leva a indústria agroalimentar? - Deolinda Silva
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Para onde nos leva a indústria agroalimentar?

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25.03.2024

A dinâmica da indústria alimentar e de bebidas é impulsionada por forças globais que moldam as tendências e influenciam as decisões dos consumidores. Um fator-chave é a presença de impulsionadores de megatendências, como as forças políticas, económicas, socais, ambientais e tecnológicas, que provocam mudanças à escala global e levam a alterações no estilo de vida, nos hábitos de consumo e no comportamento do consumidor.

A indústria agroalimentar nacional, que se tem assumido como um dos motores vitais das exportações portuguesas, está, pois, atenta às forças globais que moldam os “apetites” dos consumidores. Incorporá-las na sua oferta é a receita que garantirá o crescimento e acelerará o seu processo de internacionalização.

É com o intuito de disseminar e partilhar conhecimento com a indústria que a PortugalFoods apresenta, todos os anos, em parceria com a consultora internacional Innova Market Insights, aquelas que são as principais linhas orientadoras para a indústria agroalimentar no que diz respeito ao lançamento de novos produtos.

A indústria alimentar e de bebidas enfrenta uma era emocionante, em termos de inovação, evidenciando-se oportunidades únicas para as empresas portuguesas se destacarem globalmente. Estamos na presença de um setor inovador, que trabalha em cooperação com as entidades do sistema científico e tecnológico, para o desenvolvimento de produtos alinhados com as preferências e necessidades do consumidor.

São vários os exemplos de produtos que encontramos no mercado português que se encontram alinhados com as tendências apresentadas. As empresas portuguesas há muitos anos que trabalham a questão da melhoria nutricional dos seus produtos, que estudam o seu impacto na saúde e, mais recentemente, investem na procura de soluções que façam efetivamente a diferença em termos de sustentabilidade.

Embora a pressão inflacionária se continue a sentir, levando o consumidor a gerir de forma mais cautelosa os seus gastos, as tendências identificadas no estudo apresentado recentemente pela PortugalFoods sugerem que certos ingredientes-chave, alegações relacionadas com sustentabilidade e produtos mais saudáveis ditarão as preferências dos consumidores e irão justificar a compra por parte dos mesmos.

Esta primeira tendência está relacionada com determinados ingredientes e nutrientes e a sua relação com o consumidor. Um terço dos consumidores a nível global afirmam que verificam sempre os ingredientes na embalagem, respondendo positivamente a certos ingredientes-chave. Esses ingredientes vão desde a sabores favoritos até a ingredientes que são promovidos por influenciadores através das redes sociais.........

© Jornal Económico


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