A mais recente sondagem para as eleições legislativas de 10 de março, divulgada pelo “Expresso” na passada sexta-feira, veio confirmar aquilo que se esperava. O PS e a AD (coligação entre PSD, CDS e PPM) estão num empate técnico e o Chega é a única força política que cresce nas intenções de voto, suportado sobretudo no eleitorado mais jovem. De acordo com a sondagem, o PS terá 29%, a AD 27% e o Chega conseguirá chegar aos 21%, naquele que, a confirmar-se, seria o melhor resultado alguma vez alcançado por um terceiro maior partido desde 1974, superando os 17% obtidos em tempos pelo PRD.

Tal como o próprio André Ventura deixou claro na entrevista que concedeu ao Jornal Económico em dezembro, se o Chega tiver um resultado desta natureza conseguirá inviabilizar não só um governo do PSD como também um executivo do PS. Por outras palavras, segundo Ventura, votar no Chega não aumenta as probabilidades de o PS voltar a formar governo e o PSD, se quiser governar, terá de se entender com ele.

Esta raciocínio choca, no entanto, com dois aspetos cruciais. Em primeiro lugar, e a sondagem divulgada pelo “Expresso” comprova-o, cerca de dois terços (64%) do eleitorado da AD consideram que a coligação liderada por Luís Montenegro não deve entender-se com o Chega no pós eleições. Uma aliança com o Chega seria aceite apenas por apenas 31% dos eleitores da AD, ao passo que um entendimento com o PS seria visto com bons olhos por 34% destes votantes. Ou seja, a direção do PSD tem o apoio de uma parte significativa do seu eleitorado para resistir às exigências do Chega.

Em segundo lugar, a sondagem revela que os eleitores do Chega preferem ceder à AD do que obrigar o país a ir novamente a votos no curto prazo, ou permitir que o PS se mantenha no poder.

Estes números devem fazer-nos refletir: até agora, ao longo destes anos de fulgurante ascensão, Ventura “ganhou” em praticamente todas as jogadas que fez, porque eram situações win-win, das quais beneficiava independentemente do desfecho. Porém, estamos a chegar a um momento em que não basta ao Chega ser um partido de protesto: o que fará André Ventura se obtiver um resultado histórico mas, ainda assim, não conseguir obrigar a AD a aceitar os seus termos para um entendimento? Lançará o país no pântano, obrigando a novas eleições dentro de poucos meses? Estará o Chega disposto a pagar o preço político de criar uma situação de ingovernabilidade, seguindo os passos do PRD, que, nos anos 80, pavimentou o caminho para a primeira maioria absoluta de Cavaco Silva, ao forçar a queda do governo minoritário do PSD?

Estará, por outro lado, disposto a permitir que o PS continue no poder, pagando o correspondente preço político junto do seu eleitorado?

Neste novo contexto, qualquer uma opção que Ventura tomar terá um custo. Se inviabilizar um governo minoritário da AD, pagará um preço por isso. Se não o fizer, também. O cenário menos arriscado para o Chega será o de uma vitória, sem maioria, do PS, porque lhe permitiria continuar a ser um partido do protesto.

É natural que, face à subida fulgurante do Chega nas sondagens, a generalidade das análises se centrem nesse aspeto e na posição de força que o partido de André Ventura terá no dia 11 de março. Mas quem consegue 20% numas eleições terá, forçosamente, de assumir um nível de responsabilidade que não teria se tivesse 10 ou 12%. Não pode dar-se ao luxo de ser um partido de protesto. E aí veremos se o Chega resiste a esse momento da verdade e se é, realmente, algo mais do que um epifenómeno.

QOSHE - O “triunfo” do Chega será uma vitória de Pirro? - Filipe Alves
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O “triunfo” do Chega será uma vitória de Pirro?

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05.02.2024

A mais recente sondagem para as eleições legislativas de 10 de março, divulgada pelo “Expresso” na passada sexta-feira, veio confirmar aquilo que se esperava. O PS e a AD (coligação entre PSD, CDS e PPM) estão num empate técnico e o Chega é a única força política que cresce nas intenções de voto, suportado sobretudo no eleitorado mais jovem. De acordo com a sondagem, o PS terá 29%, a AD 27% e o Chega conseguirá chegar aos 21%, naquele que, a confirmar-se, seria o melhor resultado alguma vez alcançado por um terceiro maior partido desde 1974, superando os 17% obtidos em tempos pelo PRD.

Tal como o próprio André Ventura deixou claro na entrevista que concedeu ao Jornal Económico em dezembro, se o Chega tiver um resultado desta natureza conseguirá inviabilizar não só um governo do PSD como também um executivo do PS. Por outras palavras, segundo Ventura, votar no Chega........

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