O caso que envolve Miguel Albuquerque, Pedro Calado e dois empresários com importantes investimentos na Madeira é o mais recente exemplo de um escândalo de corrupção que mina a confiança dos cidadãos nas instituições democráticas, nos titulares de cargos públicos e, sobretudo, nos partidos tradicionais.

Em toda a Europa, estes casos têm alimentado a ascensão do populismo. Em alguns países, como Itália, aconteceu o que até recentemente era impensável, com a eleição de uma primeira-ministra neofascista. Em França, Marine Le Pen lidera as sondagens com uma vantagem de dois dígitos face ao presidente Macron, enquanto na Alemanha o partido de extrema-direita AfD assume-se como o principal rival dos democratas-cristãos da CDU, chegando ao ponto de preparar um plano para repatriar milhões de imigrantes e até cidadãos alemães com ascendência não-germânica.

Em todos estes países, os extremistas e populistas ultrapassaram a maior parte dos partidos socialistas, sociais-democratas, centristas e liberais que, desde a Segunda Guerra Mundial, constituíam o arco da governação. Em comum, estes movimentos populistas têm o facto de se alimentarem do medo do Outro, do descrédito dos partidos tradicionais e da exploração dos sentimentos menos bons que todos os seres humanos têm no seu íntimo.

Os medos, a corrupção e a revolta que aquela suscita, a ansiedade num mundo em mudança, o ciúme, a inveja, o oportunismo e a mentira são os sete pecados capitais que alimentam a ascensão dos populistas, não só os de direita, mas também os de esquerda.

E em Portugal? O Chega é, claramente, um fenómeno em ascensão e tudo indica que terá um resultado histórico nas próximas eleições, à custa de um PSD e de uma AD que não são capazes de descolar nas sondagens. O falhanço dos partidos tradicionais em conter a maré populista deve-se muito à falta de valores que tem sido demonstrada pelos titulares de cargos públicos e ao relativismo, no plano ético, que muitos políticos quase fazem gala de demonstrar, como se para eles já não existisse certo e errado.

Mas há coisas, como a verdade ou a mentira, a honestidade ou a falta dela, que não são cinzentas. Devem ser mesmo a preto e branco, sob pena de as pessoas perderem a confiança nos dirigentes que elegem e passarem a votar em movimentos populistas de protesto. A este nível, tanto o PSD como o PS têm dado importantes contributos para a ascensão de Ventura.

QOSHE - Os sete pecados capitais que alimentam o populismo - Filipe Alves
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Os sete pecados capitais que alimentam o populismo

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26.01.2024

O caso que envolve Miguel Albuquerque, Pedro Calado e dois empresários com importantes investimentos na Madeira é o mais recente exemplo de um escândalo de corrupção que mina a confiança dos cidadãos nas instituições democráticas, nos titulares de cargos públicos e, sobretudo, nos partidos tradicionais.

Em toda a Europa, estes casos têm alimentado a ascensão do populismo. Em alguns países, como Itália, aconteceu o que até recentemente era impensável, com a eleição de uma primeira-ministra neofascista. Em França, Marine Le Pen lidera as sondagens com uma vantagem de dois dígitos face ao........

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