Mais de 30% dos eleitores europeus votam em partidos antissistema. Os dados são da plataforma PopuList/The Guardian. Nos termos de Mao, isto significa que a luta entre a classe globalista e a classe trabalhadora já se estabeleceu plenamente, por toda a Europa, como a contradição primária ou dominante.

Quer dizer… toda? Não! Uma “aldeia” povoada por irredutíveis portugueses ainda resiste à polarização. Só em Portugal temos partidos extremistas pró-sistema.

À esquerda, o BE foi o principal aliado do PS, na Geringonça. À direita, o Chega é um PSD mais desbocado. Uma espécie de ala Passos depois da terceira imperial. Que partido português, com representação parlamentar, repudia frontalmente a Agenda 2030, a política da NATO na Ucrânia, o Pacto Ecológico Europeu ou o Acordo Pandémico (a realizar em breve)? Nem o PCP…

Para quê andar à trolha se podemos apenas fingir?

O BE e o Livre não precisam de se maçar com o PS. Basta-lhes simular o desentendimento antes de se entenderem de novo. Caso, entretanto, o Livre ocupe definitivamente o lugar do BE, também isso se resolve. Resta aos militantes e adeptos desamigar a Mariana – sem precisar sequer de a bloquear – e tornarem-se amigos do Rui. No limite, a Mariana até poderia ir para o PS, onde não só manteria amizades antigas como poderia fazer novas.

O PS e o PSD também não precisam de se zangar a sério. Um casamento de sucesso tem as suas fases. Por vezes, até infidelidades. Quando o Chega lhe aparece de vestido laranja bem justinho e decotado, o PSD vira o baralho. A testosterona rebenta a escala com discursos do Passos no Algarve. Porém, ainda que tal possa resultar numa aventura ilícita, todos sabemos que ele jamais trocará a mulher pela amante. Quanto à amante, ela mesma o compreenderá. Afinal, nada tem a ver com as suas congéneres radicais da Europa. Ao contrário destas, ela não é verdadeiramente antissistema, mas sonha com a legitimação.

Quem tem de andar à trolha são os alemães, os franceses e os italianos. Que temos nós a ver com isso? É de lá que vem o dinheiro. Eles que se esfolem. Depois digam quem ganhou e a malta bate palmas. Não temos estatuto, nem pachorra, para levar a sério contradições primárias. Resta-nos mimetizar a polarização europeia. Mas, sem nada que aleije – atirar tinta, por exemplo – enquanto inventamos avós e choramos nos programas da tarde.

QOSHE - Nada que aleije - João Ab Da Silva
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

Nada que aleije

11 1
07.03.2024

Mais de 30% dos eleitores europeus votam em partidos antissistema. Os dados são da plataforma PopuList/The Guardian. Nos termos de Mao, isto significa que a luta entre a classe globalista e a classe trabalhadora já se estabeleceu plenamente, por toda a Europa, como a contradição primária ou dominante.

Quer dizer… toda? Não! Uma “aldeia” povoada por irredutíveis portugueses ainda resiste à polarização. Só em Portugal temos partidos extremistas pró-sistema.

À esquerda, o BE foi o principal aliado do PS, na Geringonça. À direita, o Chega é um PSD mais desbocado. Uma........

© Jornal Económico


Get it on Google Play