Quem ainda pense que o socialismo verde e o bom gosto andam de mãos dadas devia fazer uma travessia da Costa Vicentina, pejada de aerogeradores e painéis solares. Parece que alguém ali chegou e disse: “Cá para mim, isto devia ser tudo terraplanado, e depois fazia-se uma instalação pós-moderna de um artista do Livre (passe a redundância)”.

O problema é alguém atrever-se a criticar. Logo lhe respondem, com indignação moralista, recorrendo à falácia do falso dilema: “Ou adotas energias fofinhas ou aumentas as emissões de carbono, não há alternativa.”

Entre 2011 e 2023, a Alemanha fechou todas as suas centrais nucleares, ficando quase totalmente dependente de combustíveis fósseis (carvão) e respetivos lobbies. Foi a “transição” que escolheram. Resta saber porquê.

Segundo o ecomodernista Michael Shellenberger, autor mais assertivo que contestado, e fundador do Instituto Breakthrough, dedicado à investigação ambiental, desde os anos 70 que os bilionários do carbono financiam o Sierra Club, Natural Resources Defense Council (NRDC), Environmental Defense Fund (EDF), entre outras organizações dedicadas ao ativismo ecológico. Desde então que as restrições ao carbono têm aumentado drasticamente.

Porém, quanto mais aumentam mais as grandes companhias petrolíferas se agigantam. As ações da ExxonMobil e da Shell alcançaram o seu máximo histórico em 2023, um ano de lucros record também para a nossa Galp. Outro apontamento curioso, por cá, foi o Grupo EDP ter lucrado mais 40% enquanto a EDP-fofinhas caiu 20%.

Parece contraintuitivo, mas devia ser bastante intuitivo. Em negócios, as regulações só afetam os pequenos. Os grandes usam-nas para acabar com a concorrência, gerando monopólios. Em particular, o setor da energia atinge requintes de perversidade, ao fomentar toda uma indústria de energias fofinhas que jamais resolverão o problema.

Mas, a ideia é justamente essa. Todos dizem mal do carbono, só que ninguém quer acabar com ele. Sem alternativas viáveis, o carbono é insubstituível, e restringir o insubstituível apenas exponencia a subida do seu valor real. Daí que os bilionários dos combustíveis fósseis e as organizações ambientalistas tenham um inimigo em comum: a energia nuclear. Trata-se da única fonte de energia que poderia estragar a festa, tanto aos monopolistas como aos ativistas.

Quem perde é o consumidor e, ironia das ironias, o próprio ambiente. Os aerogeradores dizimam aves e insetos, com sérios impactos na biodiversidade. Os sobreiros de Sines não resistem às plantações de painéis solares. Além-mar as imagens do Monte Aso, no Japão, são bem esclarecedoras do quanto estes painéis arruínam a beleza natural das paisagens.

Além disso, necessitam de áreas vastíssimas para produções mínimas, competindo com territórios agrícolas. Pior ainda é que nem os aerogeradores nem os painéis são recicláveis. Ou seja, contas feitas, a única coisa verde das renováveis são as notas de 100 euros que as subsidiam.

As centrais de energia nuclear são bastante seguras, ao contrário do que os “climáximos” afirmam por aí. Mas, imaginem o quão mais seguras e eficientes seriam se tivessem beneficiado de 1% dos subsídios e investimentos desperdiçados em falsas promessas? Trata-se, sem sombra de dúvidas, da única alternativa viável ao carbono. Logo, um verdadeiro pesadelo para quem, no fundo, gosta tanto dele.

QOSHE - O pesadelo das fofinhas - João Ab Da Silva
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O pesadelo das fofinhas

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04.04.2024

Quem ainda pense que o socialismo verde e o bom gosto andam de mãos dadas devia fazer uma travessia da Costa Vicentina, pejada de aerogeradores e painéis solares. Parece que alguém ali chegou e disse: “Cá para mim, isto devia ser tudo terraplanado, e depois fazia-se uma instalação pós-moderna de um artista do Livre (passe a redundância)”.

O problema é alguém atrever-se a criticar. Logo lhe respondem, com indignação moralista, recorrendo à falácia do falso dilema: “Ou adotas energias fofinhas ou aumentas as emissões de carbono, não há alternativa.”

Entre 2011 e 2023, a Alemanha fechou todas as suas centrais nucleares, ficando quase totalmente dependente de combustíveis fósseis (carvão) e respetivos lobbies. Foi a “transição” que escolheram. Resta saber porquê.

Segundo o ecomodernista Michael........

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