Os recentes abalos na economia global têm redefinido o conceito de normalidade, catapultando a incerteza e volatilidade a patamares excecionalmente elevados, com impactos diretos no crescimento económico global.

Gerir uma empresa neste contexto pode ser intimidante, especialmente tendo em conta o impacto da inflação. Antecipa-se uma eventual diminuição da subida dos preços nos próximos meses, mas os números ainda apontam para uma taxa média anual elevada. Na área do euro, espera-se que a inflação atinja os 5,6% no final de 2023, 3,2% em 2024 e 2,1% em 2025, segundo as estimativas mais recentes do Banco de Portugal.

Esta realidade cria desafios significativos para as empresas.

Primeiramente, os consumidores deparam-se com preços mais elevados em produtos essenciais, como alimentos e combustíveis, enquanto os empresários enfrentam custos mais altos em matérias-primas e mão de obra. Esta disparidade pode afetar seriamente os resultados das organizações, especialmente aquelas com margens de lucro já estreitas. A simples subida dos preços para os clientes pode não ser a solução ideal.

Em segundo lugar, a inflação provoca distúrbios nas cadeias de abastecimento pelo que a obtenção de produtos e matérias-primas se torna uma tarefa mais complicada, causando atrasos que afetam os clientes – e a reputação das empresas junto deles. Depois, os consumidores têm menos poder de compra, despendendo menos.

A maioria das empresas sente este impacto, tornando a atração de novos clientes e a manutenção dos atuais um desafio ainda maior. Em oposição, os detentores de dívida podem, por vezes, beneficiar da inflação. Se uma dívida fixa é mantida e o valor do dinheiro desvaloriza, o montante devido diminui, proporcionando uma vantagem financeira limitada.

Em todos os setores, observamos empresas que veem esta conjuntura como uma oportunidade para reestruturar as suas operações.

Algumas estratégias de gestão para enfrentar a inflação a longo prazo incluem apostar na fidelização dos clientes seja através de promoções, ofertas personalizadas ou programas à medida dos mesmos; mas também encontrar alternativas ao aumento de preços ao consumidor como a redução do volume do produto ou a adaptação da embalagem, mantendo os custos controlados sem que os clientes sintam o impacto de imediato; e manter um controlo rigoroso e eficaz do inventário, baseado na variação da oferta e procura em tempo real, que é fundamental para evitar a imobilização de capital em stocks não utilizados.

Por último, as empresas podem aproveitar a alavancagem financeira trazida pela inflação, mas com cuidado para evitar excessos que possam prejudicar a empresa no futuro.

Para superar os desafios inflacionários, deve existir coordenação entre as diversas funções e o departamento financeiro, pois conhecer a posição de tesouraria em tempo real é essencial para tomar decisões informadas. A integração de plataformas digitais que registam transações em tempo real e a conexão com fontes externas de dados permitem uma gestão mais precisa e eficaz. Em tempos de rápidas mudanças económicas, o planeamento financeiro, a gestão da procura e da cadeia de abastecimento devem ser revistos com frequência.

Adotar estratégias preditivas, preparar para os desafios económicos e manter a agilidade é fundamental para o sucesso das empresas num cenário marcado pela inflação. O planeamento probabilístico, que prevê diferentes cenários, é uma abordagem que se revela cada vez mais relevante neste contexto.

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O impacto da inflação nas empresas: estratégias para enfrentar os desafios

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27.11.2023

Os recentes abalos na economia global têm redefinido o conceito de normalidade, catapultando a incerteza e volatilidade a patamares excecionalmente elevados, com impactos diretos no crescimento económico global.

Gerir uma empresa neste contexto pode ser intimidante, especialmente tendo em conta o impacto da inflação. Antecipa-se uma eventual diminuição da subida dos preços nos próximos meses, mas os números ainda apontam para uma taxa média anual elevada. Na área do euro, espera-se que a inflação atinja os 5,6% no final de 2023, 3,2% em 2024 e 2,1% em 2025, segundo as estimativas mais recentes do Banco de Portugal.

Esta realidade cria desafios significativos para as empresas.

Primeiramente, os consumidores deparam-se com preços mais elevados em produtos essenciais, como alimentos e combustíveis, enquanto os empresários enfrentam custos mais altos em........

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