Num outdoor de pré-campanha, o PSD coloca uma grande imagem de Luís Montenegro e a frase “UNIR PORTUGAL”. Percebo a intenção, mas não percebo a estratégia. Não encontro a coerência entre a palavra escrita e a palavra dita.

Presumo que os cidadãos a unir sejam todos ou quase todos, desde logo os votantes.
Os votantes de esquerda, impossíveis de unir ao PSD, são quase 40%. Os votantes do Chega foram já afastados com o afastamento do seu partido de qualquer acordo com o PSD.
Só até aqui já desuniu mais de metade.

A Iniciativa Liberal disse que por agora não se quer unir. O CDS pode querer unir-se, e isso é bom, mas o partido ainda não sabe se contínua a existir. Portanto, o PSD lança um slogan com uma intenção que mais não é que uma frase bem-intencionada, mas com um vazio de concretização. Um tiro de pólvora seca.

Como cidadão, gostava que a gestão do Estado tivesse políticas mais liberais, mais democratas, mais abertas à sociedade económica e à iniciativa privada. Gostava de ver o Estado a depender menos das contribuições dos cidadãos. Por isso, seria bom ter agora um governo de direita para ajustar a rota fiscal, reformar a justiça, cuidar da saúde social e estimular o tecido empresarial. Portugal precisa disto, entre outras coisas.

Objetivamente, não defendo o 8 nem o 80, sendo o 8 um Governo de minoria parlamentar e o 80 um Governo de maioria absoluta de um só partido. O natural é que lidere o Governo o partido que ganhou as eleições e, para tal, deve promover uma coligação com outros partidos para ter um forte suporte nas decisões de reformar.

Defendo um governo com sólido apoio parlamentar. Para reformar é preciso decidir mudar e mudar é sempre um fenómeno com muitas resistências, em qualquer ambiente pessoal ou coletivo. Diz o ditado – a quem muda Deus ajuda – mas a fé das pessoas não é suficiente para acreditar na ajuda divina na hora de trocar o certo pelo incerto, ainda para mais quando se trata de políticas e políticos.

A confiança numa mudança alienou-se da vida quotidiana das pessoas, por isso, desenganem-se os cidadãos que acham que o país mudará com governos politicamente fracos. Desenganem-se os cidadãos e os próprios políticos.

Ao PSD estaria capaz de sugerir um slogan do género “unir vontades” e a seguir mostrar uma forte disponibilidade para acordos. Sem medo, sem medo. A força de uma liderança vê-se na abertura aos outros e, se a democracia tem de ter partidos, que haja quem os una em torno de uma missão: “Fazer com que Portugal valha a pena”!

QOSHE - Unir Portugal? - José Miguel Marques Mendes
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Unir Portugal?

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23.11.2023

Num outdoor de pré-campanha, o PSD coloca uma grande imagem de Luís Montenegro e a frase “UNIR PORTUGAL”. Percebo a intenção, mas não percebo a estratégia. Não encontro a coerência entre a palavra escrita e a palavra dita.

Presumo que os cidadãos a unir sejam todos ou quase todos, desde logo os votantes.
Os votantes de esquerda, impossíveis de unir ao PSD, são quase 40%. Os votantes do Chega foram já afastados com o afastamento do seu partido de qualquer acordo com o PSD.
Só até aqui já desuniu mais de metade.

A Iniciativa Liberal disse que por agora não se quer unir. O CDS pode querer unir-se, e isso é bom,........

© Jornal Económico


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