Há qualquer coisa que não bate certo em Fernando Medina. Tem tudo para ser tudo, mas há pessoas para quem existem obstáculos que parecem ser intransponíveis, bojadores que dificilmente se transformam em boas esperanças, perceções que não colando com a realidade acabam por condenar a um meio caminho, a um quase lá, a um cozido à portuguesa sem farinheira ou a uma história de amor que morre sem razão aparente.

Medina nasceu na clandestinidade, mas os comunistas detestam-no. O pai Edgar Correia foi um ilustre militante do PCP e estava clandestino quando o seu rapaz nasceu, só soube que tudo correra bem por um curto texto nos classificados do DN. O miúdo veio ao mundo como um herói, mas ninguém o reconhece ou exalta nesse lado épico da sua biografia. Uns por acharem que os pais traíram o PCP, outros por não entenderem a razão para o pai e a mãe terem sido tão idealistas e o filho tão frio.

Aconteceu-lhe sempre isso. No Conselho Nacional de Educação, como assessor de Guterres, na secretaria de Estado do Trabalho ou como braço-direito de Costa em Lisboa e depois como presidente de Câmara.

Ganhou e perdeu as eleições. Quando as conquistou foi por causa de Costa, quando as perdeu foi pela sua incompetência. Muitos decretaram a sua morte política, mas António Costa convidou-o para ministro das Finanças onde apresentou o maior excedente da história, 4,3 mil milhões, cerca de 180 milhões por dia, e reduziu a dívida portuguesa para menos de 100% do PIB.

Resultados extraordinários, mas desvalorizados. Para uns, foi a inflação. Para outros, Mário Centeno ou uma brutal engenharia financeira.

Há pessoas assim. Pessoas a quem parece faltar alguma coisa. Podem provar mil vezes que são competentes, mas há sempre mil razões para desconfiar. Ou porque têm um ar falso, ou porque são sonsas ou por outra coisa qualquer. Não deixa de ser psicanalítico.

Se eu fosse a Fernando Medina ia à bruxa ou ao divã. Deve ser difícil aguentar a perceção de que tudo o que fez bem foi graças a outro. Nasceu na clandestinidade, mas os pais é que foram os heróis. Trabalhou com Guterres porque o primeiro-ministro precisava de independentes. Fez um grande trabalho como secretário de Estado, mas o governo era de Guterres e as ideias de Vieira de Silva. Foi vice na Câmara e depois presidente, mas o melhor foi culpa de Costa e o pior tem a marca evidente da sua responsabilidade. Foi um ministro das Finanças excelente, mas Mário Centeno é que era.

Pela parte que me toca, que não acredito em bruxas, talvez o melhor seja pedir opinião a quem perceba de maquilhagem, teatro e expressão corporal. Ou rezar a um Deus em que (ainda) não acredita para que Ele o ajude a entender a razão para ser sempre o outro a comer a melhor refeição no melhor lugar da mesa.

QOSHE - Há qualquer coisa que não bate certo em Fernando Medina - Luís Osório
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Há qualquer coisa que não bate certo em Fernando Medina

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09.02.2024

Há qualquer coisa que não bate certo em Fernando Medina. Tem tudo para ser tudo, mas há pessoas para quem existem obstáculos que parecem ser intransponíveis, bojadores que dificilmente se transformam em boas esperanças, perceções que não colando com a realidade acabam por condenar a um meio caminho, a um quase lá, a um cozido à portuguesa sem farinheira ou a uma história de amor que morre sem razão aparente.

Medina nasceu na clandestinidade, mas os comunistas detestam-no. O pai Edgar Correia foi um ilustre militante do PCP e estava clandestino quando o seu rapaz nasceu, só soube que tudo correra bem por um curto texto nos classificados do DN. O miúdo veio ao mundo como um herói, mas........

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