Ao assegurar uma ampla vitória nas primárias do Partido Republicano, realizadas na famosa “Superterça”, Donald Trump agora com uma decisão favorável da Suprema Corte prossegue na campanha que, ao que tudo indica baseado nas pesquisas, o reconduzirá à Casa Branca, quatro anos depois de haver sido defenestrado por Joe Biden, o atual presidente.

Num cenário ideal para uma democracia saudável, nenhum dos dois deveria ser candidato a presidente: Biden em razão da sua idade avançada e sinais claros de senilidade – que lhe retiram o dinamismo para ser o presidente daquele que já foi o país mais importante do sistema internacional e o “liderança do mundo livre” – e Trump devido ao fato de ter sido um mau perdedor, praticamente levando os Estados Unidos a um caos institucional por não aceitar o resultado das urnas que lhe haviam dado vitória quatro anos antes.

Mantidas as condições atuais, Trump tem altas possibilidades de reeleger-se. Embora a economia norte-americana esteja razoável – sem ainda ter-se recuperado plenamente dos efeitos da crise econômica de 2007 e da pandemia da Covid-19 – Biden, cuja forma é distinta de Trump, mas cujo conteúdo lhe é muito próximo, equivocou-se, particularmente, na questão migratória.

Trump deverá ainda relembrar os norte-americanos sobre os fracassos de Biden, destacando, internacionalmente, a saída desastrada do Afeganistão, a guerra na Ucrânia e a situação terrível em Gaza, onde Biden adota uma postura hipócrita: por um lado pede o cessar fogo e por outro continua fornecendo armas a Israel. E Binyamin Netanyahu, o “enfant terrible” de Israel, ignora Biden, evidenciando o quanto a liderança norte-americana falhou e se apequenou globalmente, apesar de Biden afirmar que os Estados Unidos estavam de volta ao multilateralismo.

O retorno de Trump à Casa Branca preocupa o mundo com relação ao tipo de presidente que ele será. Terá ele a grandiosidade de abandonar o espírito revanchista contra aqueles que fizeram aquilo que ele chamou de “caça às bruxas” quanto à sua atuação na Casa Branca? Como Trump se relacionará com os líderes europeus que manifestaram alívio quando o viram fora da presidência? Qual será o futuro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) após os equívocos de atuação na Ucrânia?

Conseguirá Trump sobrepujar os desafios de personalidade que ele sabidamente tem quanto aos seus inimigos? Resistirão as instituições aos desafios que ele poderá impor? E a liberdade de imprensa, particularmente com as mídias que lhe prejudicaram substancialmente durante sua presidência por sua imparcialidade?

Enfim, Trump é uma dúvida global. Mas assim é a democracia como sistema. Mesmo no país mais importante do sistema internacional, a democracia convalesce em Cuidados Intensivos porque deixou de basear-se no mérito e passou a depender do carisma, abandonou os valores pela hipocrisia, e adotou o conflito ao invés da sinergia. Restaurará Trump a democracia ao seu esplendor? Ao que tudo indica, nem de perto. A única esperança positiva quanto a Trump é que o mundo parecia mais seguro enquanto ele estava na presidência norte-americana.

QOSHE - O retorno de Trump - Marcus Vinícius De Freitas
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O retorno de Trump

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15.03.2024

Ao assegurar uma ampla vitória nas primárias do Partido Republicano, realizadas na famosa “Superterça”, Donald Trump agora com uma decisão favorável da Suprema Corte prossegue na campanha que, ao que tudo indica baseado nas pesquisas, o reconduzirá à Casa Branca, quatro anos depois de haver sido defenestrado por Joe Biden, o atual presidente.

Num cenário ideal para uma democracia saudável, nenhum dos dois deveria ser candidato a presidente: Biden em razão da sua idade avançada e sinais claros de senilidade – que lhe retiram o dinamismo para ser o presidente daquele que já foi o país mais importante do sistema internacional e o “liderança do mundo livre” – e Trump devido ao fato de ter sido um mau perdedor, praticamente levando os Estados Unidos a um caos institucional........

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